Crítica | Doutor Estranho (2016)

O longa acompanha a história de origem de Stephen Strange (Benedict Cumberbatch) de modo muito similar às HQs, o começo também é o melhor segmento da obra. Strange é um neurocirurgião arrogante e autoindulgente, muito semelhante a outra figura carimbada, Tony Stark. Ele se recusa a atender diversos pacientes ‘incuráveis’ para não manchar sua carreira prestigiosa cheia de holofotes e dinheiro abundante.

É indiscutível negar a qualidade visual do longa que explora, igualmente, a psicodelia e os efeitos hipnóticos de caleidoscópios. Há até mesmo uma sequência que o próprio cenário rotacional em efeito de caleidoscópio. É algo fenomenal que nunca tinha visto em nenhum filme. Tudo nos cenários é aproveitado para gerar esses efeitos ornamentais sejam espelhos, ladrilhos, prédios, esculturas barrocas na madeira, absolutamente tudo. É desde já um dos concorrentes mais fortes para ganhar o vindouro Oscar de efeitos visuais do ano que vem.

A criatividade da Industrial Light & Magic, a lendária empresa de efeitos especiais de George Lucas que hoje é propriedade também da Disney chegou a níveis extremos. Toda essa magia que envolve o personagem e seu universo criou o filme mais bonito de super heróis que teremos notícias nos últimos anos. O diretor Scott Derrickson dá  bastante ênfase nas mãos do protagonista,  esses enquadramentos retornam de tempos em tempos exigindo que o espectador monte o contraste em sua mente, compreendendo a dor do protagonista. Infelizmente, as proezas das metáforas visuais se encerram em pouco tempo.

A personagem Christine (Rachel McAdams), é o par romântico de Stephen , mesmo que subaproveitada. Christine possui mais química com Strange do que Jane como par romântico teve com Thor, a personagem não brilhou no filme, mas futuramente pode ser que tenha um papel importante.

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A magia está fortemente ligada ao filme, mas já havíamos visto uma ”amostra”, mesmo que não seja do jeito que queríamos, nos dois filmes de Thor. Agora nos é apresentado que os mortais da Terra já manipulavam a séculos a magia e a defendiam de ameaças de outras dimensões. Até ouvir o rumor de um homem que se curou após lesionar seriamente a coluna. Esse rumor o leva até Katmandu, no Nepal, atrás do Templo de Kamar-Taj, onde monges poderiam ensinar como se curar apenas com o poder do espírito.

A anciã interpretada pela atriz Tilda Swinton é incrível , o destaque do longa sem duvida, a imponência e a serenidade da personagem é exalada por todas as cenas na qual se encontra. Strange passa a descobrir segredos de sua mestra, além de ser abordado constantemente para que tome parte em uma luta transcendental contra Dormammu, o dominador de planetas que vive na Dimensão Negra, e seus zelotes liderados por um antigo aluno da anciã, Kaecilius que visa abrir um portal para que Dormammu consuma o planeta.

A Marvel já indica que Dormammu funcionará como o Galactus do universo cinematográfico Marvel já que é referenciado como “colecionador de mundos” e de “força da natureza”. Uma decisão lógica que não agradará muita gente. Também é aberto o conceito de universos paralelos já indicando que veremos mais versões de heróis já estabelecidos no MCU.

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É nos ensinado didaticamente que é através das dimensões do Multiverso que os magos podem utilizar a energia para moldar a realidade. Lembrando que em uma cena deletada de Capitão América: Guerra Civil , o  Visão explica para o General Ross que Wanda que como sabemos  tem seus poderes originados da joia da mente , a Feiticeira Escarlate pode absorver energia extra dimensional para moldar a realidade, logo a personagem não possui poderes telecinéticos como acreditamos. Confirmando que ela já manipula a realidade em níveis menores , justamente por não conter nenhum tipo de treinamento místico. No filme revela mais uma coisa , os aprendizes de magos , aprendem que só é possível manipular a realidade na dimensão espelhada , enquanto Kaecilius (Mads Mikkelsen), que atua como um canal de receptor da entidade Dormmamu  pode manipular a realidade não apenas na dimensão espelhada , mas na nossa realidade também em níveis bastante altos.

Quando Karl Mordo ensina a Stephen Strange sobre artefatos místicos de todos os tipos, acaba incluindo o Cajado do Tribunal Vivo. O tribunal vivo é uma entidade cósmica muito poderosa  que  se parece uma estátua dourada com uma cabeça flutuante e três rostos, sua função é supervisionar todas as realidades do Universo Marvel e julgá-las quando necessário, estando abaixo apenas do One Above All. Indicando talvez possível participação da entidade em Vingadores: Guerra infinita ou Vingadores 4 ainda sem titulo.

A amizade de Mordo e Strange não é bem definida, mas ele serve como ”tutor” para o protagonista. O interessante é que os roteiristas exploram em alguns diálogos toda a admiração que Mordo nutre pela Anciã, para depois destruí-lo  e Justificar sua futura motivação transformando-o em antagonista para ser explorado no próximo filme. Quando Strange finalmente domina a magia dos portais em mais uma situação cliché, mas eficiente, temos uma sequência em montagem para mostrá-lo desenvolvendo seus talentos místicos e marciais. Mordo com certeza será um dos vilões mais interessantes de se acompanhar no Universo Cinematográfico Marvel. O enredo deu motivações para tal atitude de rompimento com os magos protetores , já que ele foi traído e tudo aquilo que ele acreditava não correspondeu a realidade.

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O olho de Agamotto na adaptação é a Joia do Tempo, uma das pedras do infinito , origem bem diferente da versão dos quadrinhos, através disso, remonta as páginas roubadas do livro da Anciã e descobre que ela utiliza energia da Dimensão Negra para manter-se imortal. Stephen domina rapidamente o artefato e suas magias podendo voltar e avançar no tempo, que no ultimo ato toda a utilização da joia na batalha final torna tudo visualmente prazeroso . Stephen Strange se torna o mestre do Sanctum Santorum de Nova York , deixando claro que mesmo que ele aprenda magia facilmente , ainda não está pronto para ser o mago supremo do Multiverso, mesmo que a morte da anciã já abra o caminho para isto. O Multiverso corre perigo muitos saberão que não existe mais um mago supremo e ameaças misticas e cósmicas virão para nossa realidade. Logo Stephen não ficará por muito tempo apenas como um mestre , mas foi uma boa decisão de não coloca-lo agora como tal.

Doutor Estranho era a ”chance” da Marvel Studios arriscar-se com elementos novos e, de certa forma, ela acertou em cheio na inovação. Porém, em total contraste com o espetáculo visual, a narrativa é um das mais fracas e apressadas , sentimos a falta de uma narrativa mais ousada, mas existe algo que acaba  limitando o filme quando tenta flertar com temas profundos e interessantes. Ou a Marvel se arrisca com mudanças estruturais em sua narrativa ou veremos o grande império que ela se tornou , ficar cada vez mais limitado em suas infinitas possibilidades que apresenta.

Na cena pós créditos ninguém menos do que Thor aparece para pedir ajuda a Stephen Strange para resgatar seu pai Odin , já deixando claro que o personagem antes de aparecer em Vingadores : Guerra Infinita , estará em Thor Ragnarok.

Doutor Estranho- 2016 ( Doctor Strange- EUA)

Direção: Scott Derrickson

Roteiro: Jon Spaihts, Scott Derrickson, C. Robert Cargill

Elenco: Benedict Cumberbatch, Chiwetel Ejiofor, Rachel McAdams, Benedict Wong, Mads Mikkelsen, Tilda Swinton, Michael Stuhlbarg, Benjamin Bratt, Scott Adkins, Zara Phythian, Linda Louise Duan, Topo Wresniwiro, Mark Anthony Brighton

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