Resenha | Black Mirror: White Christmas

Black Mirror certamente é uma pérola da tv inglesa, trata-se de uma belíssima antologia, que entrega episódios fechados sempre com uma crítica bem elaborada a respeito de como a sociedade usufrui da tecnologia e as consequências da nossa imersão no mundo digital, você pode conferir a recomendação do primeiro episódio da terceira temporada clicando aqui.

Falemos então do episódio especial de natal “White Christmas” (tentarei não entregar muitos spoilers ). Natal é tempo de otimismo, rostos felizes e esperançosos e etc… Não em Black Mirror, pois de espirito natalino nesse episódio, só a neve caindo mesmo…

Sinopse

Em um lugar parecido com uma instalação de pesquisa isolada na neve, encontram-se dois homens confinados a 5 anos, um é Matt (Jon Hamm) e o outro é Potter (Rafe Spall). Matt está preparando uma refeição para o Natal quando Potter aparece; com a intenção de fortalecer o espírito natalino de Potter, Matt o convida para uma conversa amistosa e diz que em 5 anos morando juntos, trocaram apenas algumas palavras. À contragosto de Potter, o diálogo se inicia e Matt começa a contar uma experiência própria, inicialmente enfadonha, mas que vai se aprofundando e se tornando algo realmente interessante.  Matt deseja saber como Potter foi parar num fim de mundo no meio da neve, contando sua versão, imagina que Potter fará o mesmo…

A ideia do episódio é contar duas histórias independentes, uma com Matt e outra com Potter, e no fim das contas, fazer uma intercessão entre os dois arcos, gerando assim um terceiro arco que definiria tudo. Assim, Matt começa contando a respeito de suas antigas atividades. Trabalhando como uma espécie de treinador de inteligência artificial, não um tipo comum de I.A, mas sim uma cópia completa da consciência de um indivíduo, interpretada por Oona Chaplin; Matt parece ter muita desenvoltura com o funcionamento da mente humana, obrigando uma I.A a trabalhar de acordo com as vontades de seu dono. A outra atividade de Matt era mais escusa, e consistia em acompanhar um rapaz com dificuldades em relacionamentos, assim como em “Hitch, conselheiro amoroso”; assessorado por uma tecnologia que lhe permitia ver e ouvir tudo o que o rapaz fazia durante a balada, como se fosse uma voz na cabeça, dava informações pontuais enquanto se divertia assistindo. Mas algo dá muito errado, Matt tenta encerrar a transmissão às pressas e para piorar, a esposa de Matt descobre a atividade indiscreta, furiosa bloqueia Matt, assim como fazemos no Facebook quando algum amigo sem noção posta alguma coisa absurda; a diferença é que nessa realidade alternativa de Black Mirror, o bloqueio é incondicional e transcende as redes sociais, a pessoa vira um borrão de pixels e não pode ser ouvida ou vista pela pessoa que o bloqueou. Em resumo, é possível bloquear uma pessoa da sua vida, de modo que ela não seja notada até que você permita.

Nesse mesmo contexto, ou realidade, Potter agora mais receptivo após uma taça de vinho, começa a contar sua história, relata a Matt que teve um gravíssimo problema com a esposa, encontrando um teste de gravidez na lixeira com resultado positivo, sua esposa se recusou a ter o bebê, os dois discutiram, Potter foi abandonado e bloqueado pela esposa sem muito diálogo. Vai relatando a Matt sistematicamente as consequências, e como a tecnologia do bloqueio e a falta de explicações por parte da esposa destruíram sua vida.

A conclusão do episódio é magistral e corrobora de forma brilhante os efeitos danosos de se impregnar a vida real com as artimanhas das redes sociais, o que aconteceria se decidíssemos cortar relações permanentemente com alguém de forma análoga ao que fazemos nas redes sociais? Deletar um relacionamento seria tão fácil como parece? Ao apagarmos todas as fotos e registros de conversas, temos a sensação de punir quem nos desagradou de alguma maneira, e esse episódio mostra o que poderia acontecer se pudéssemos estender esse castigo ao mundo real, as consequências são assustadoras. Outra abordagem inteligentíssima é quanto à manipulação de uma inteligência artificial, um indivíduo consciente pode ser usado (escravizado) para suprir as nossas vontades, uma vez que foi criado artificialmente?

A intercessão entre as histórias de Matt e Potter certamente irá deixá-lo no mínimo surpreso e maravilhado com a qualidade do roteiro e direção. A atuação perfeita de Jon Hamm que é um ator espetacular, daqueles que chamam os holofotes para si, e o desempenho de Rafe Spall como Potter e Oona Chaplin como a I.A (Inteligência Artificial), são motivos de sobra para assistir a esse fantástico episódio de Black Mirror.

Direção e Roteiro: Carl Tibbetts e Charlie Brooker

Elenco: Jon Hamm, Rafe Spall, Oona Chaplin, Natalia Tena, Janet Montgomery, Liz May Brice.

Canal: Netflix

Duração: 74 min

Data de emissão: 16 de dezembro de 2016.

Até a próxima amigos!

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