Crítica | Feud – 1ª Temporada: Bette and Joan (2017)

Disse no meu post sobre o primeiro episódio da série que se a série não decaísse muito o nível apresentado no piloto iria fazer uma crítica sobre a temporada completa. “Feud” não manteve a qualidade apresentada no episódio piloto. Ela foi além. “Feud” não se limitou apenas a tratar a briga de duas figuras famosas do cinema. Ela foi muito mais além que isso. Ela mostrou muito mais do que pode ser lido numa matéria sobre o conflito entre Joan Crawford e Bette Davis, entregando uma obra forte e emocionante que consegue ser trágica e cômica ao mesmo tempo.

Durante os oito episódios da primeira temporada “Feud” o espectador acompanha a trajetória das atrizes Joan Crawford e Bette Davis até o seu encontro nos polêmicos bastidores de um dos melhores filmes de Robert Aldrich: “What Ever Happend To Baby Jane?”(cuja crítica pode ser lida aqui). O ódio e as constantes brigas entre as duas atrizes principais foi o que marcou toda a produção do filme. Para o meio da temporada o espectador presencia o sucesso do filme e como ele impulsionou a carreira das duas atrizes para que, no final, veja o declínio final da mesma. A trama é divida de forma incrível nos oito episódios da série.  Antes de sua estreia, a série foi renovada para a segunda temporada e abordará o conflito entre o Príncipe Charles e a Princesa Diana.

O elenco de “Feud” é o um dos grandes diferencias da série. A escolha dos atores não poderia ser mais acertada. Jessica Lange incorpora de vez toda a fragilidade, impotência e rivalidade que Joan Crawford deve expressar em cena. Lange é uma atriz que sabe o que faz, que sabe como controlar a cena, sempre impondo presença. Lange consegue expressar um turbilhão de sentimentos só com o seu olhar. Aqui o espectador vê uma Joan que quer voltar ao “jogo”, que deseja voltar ao centro dos holofotes enquanto esconde a dor que sente e a sua fragilidade, algo mostrado excelentemente no episódio cinco (“And the Winner is…”) um dos melhores episódios da temporada.

Já Susan Saradon encarna com perfeição a figura de Bette Davis chegando a um ponto que fica complicado separá-la da verdadeira da Davis. O modo como atriz imita os movimentos físicos, a sua voz e o seu comportamento são de admirar, sendo quase certeza a sua indicação a vários prêmios como o Emmy. A sua Bette é uma figura que deseja se firma de volta como uma atriz de cinema (no primeiro episódio ela está fazendo peças de teatro), que sofre com os seus problemas em casa, com um relacionamento complicado com a sua filha B.D, querendo ter um maior contato com a sua outra filha que foi classificada com retardo mental (ambos os problemas com as filhas são representados de forma excelente no terceiro episódio “Mommie Daerest”) e a pressão que ela teve que carregar em suas costas sobre ela iria ou não levar o Oscar de Melhor Atriz em 1963 (É aconselhável não pesquisar os resultados daquela noite para que a revelação tenha uma maior carga dramática).

E suas cenas juntas são um deleite perfeito. O espectador sente cada provocação, cada olhar torto e o sofrimento que elas internalizam dentro de si. Caso fossem escolhidas outras atrizes que não soubessem encarnar de forma tão bem quanto essas duas retrataram, “Feud”, provavelmente, iria fracassar em sua tentativa de mostrar à verdadeira persona e o conflito delas, mas Jessica Lange e Susan Saradon fazem a tarefa de forma irretocável.

O elenco auxiliar também não falha em nenhum aspecto. Judy Davis está impagável como a sua Heda Hooper (o roteiro faz as suas críticas ao sensacionalismo dos jornalistas por meio da personagem), sempre fazendo com que um sorriso se abra na face do espectador quando ela aparece; Alfred Molina está ótimo como o diretor Robert Aldrich que passa por problemas com o seu casamento; Jackie Hoffman está sensacional como Mamacita podendo arrancar várias reações positivas dos espectadores; Stanley Tucci é outra adição certeira no elenco como o produtor Jack Warner e Alison Wright também não faz feio com sua personagem Pauline. E as participações em papéis menores de Catherine Zeta-Jones, Dominic Burgess e Kathy Bates como Olivia de Havilland, Victor Buono e Joan Blondell; respectivamente, são incríveis com todos os atores no ponto.

Feud” conta com um roteiro forte falando de toda a dificuldade para atrizes como Joan e Bette naquela época. Consideradas já atrizes velhas, as suas oportunidades em grandes filmes era pequena. Durante o decorrer da temporada, o espectador vê elas perdendo vários papéis por “não estar bonita o suficiente para este papel”. A série mostra de forma excepcional a realidade que elas enfrentavam de uma forma perfeita, sem rodeios e sem exageros.  Toda a temporada faz uma grande crítica a toda a indústria do entretenimento.

A direção de arte e o figurino conseguem trazer todos os espectadores para a Hollywood daqueles tempos. Em todos os episódios, esses dois aspectos são impecáveis. A pesquisa histórica foi muito bem trabalhada e fica claro como a produção tentou se manter o mais fiel impossível à realidade. Um exemplo bem objetivo: a cena em que Joan Crawford anuncia o vencedor de Melhor Direção no Óscar de 1963. Só basta pesquisar no YouTube a cena real e comparar com o episódio.  A trilha sonora também foi muito bem utilizada, como demonstrado no penúltimo episódio onde a música de Patti Page “Hush, Hush, Sweet Charlotte” é colocada num momento-chave. O último episódio da temporada, o melhor episódio apresentado, define a sensação de melancolia apresentando um episódio forte, triste, emocionante, com a cena do jantar das duas atrizes sendo o ápice. Lange e Saradon se entregaram totalmente nessa cena e o resultado é de emocionar a todos.

Feud” teve uma grande estreia. Com uma trama forte, personagens reais e envolventes, direção de arte maravilhosa, mostrando como era aquela Hollywood daquela época e sobre o conflito daquelas duas figuras que eram famosas no seu tempo que continuam sendo icônicas anos depois. A frase dita pela personagem de Catherine Zeta-Jones não poderia definir de forma melhor a série: “Feuds are never about hate. Feuds are about pain. They`re about pain”.

Ps1: Assistam “What Ever Happend to Baby Jane?” antes de conferir a série. Irá ajudar muito.

Ps2: Deixo de novo a cena de abertura no post, pois ela é incrível:

Feud – 1ª Temporada: Bette and Joan (EUA, 2017)

Criadores: Ryan Murphy, Jaffe Cohen, Michael Zam

Direção: Gwyneth Horder-Payton, Helen Hunt, Tim Minear, Ryan Murphy, Liza Johnson

Roteiro: Gina Welch, Jaffe Cohen, Michael Zam, Tim Minear, Ryan Murphy

Elenco: Jessica Lange, Susan Sarandon, Judy Davis, Jackie Hoffman, Alfred Molina, Stanley Tucci, Alison Wright, Catherine Zeta-Jones, Dominic Burgess, Joel Kelley Dauten, Kathy Bates, Kiernan Shipka, Molly Price, Brooke Star, Chelsea Summer

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