Crítica | Pânico 4 (2011)

Leia aqui as críticas dos filmes anteriores da franquia:

Crítica – Pânico (1996)

Crítica – Pânico 2 (1997)

Crítica – Pânico 3 (2000)

A quarta parte da famosa franquia slasher só veio 11 anos depois da estreia do terceiro filme. A parte anterior não foi bem recebida pela crítica, mas foi um sucesso de público faturando muito dinheiro para os estúdios. Com isso tal demora do lançamento da quarta parte ser lançada chega a surpreender, mas ela não podia ter vindo em uma época melhor para que fosse possível que criticar algo do gênero. Nos anos próximos de 2010, o sub-gênero slasher sobrevivia de remakes ou reboots de clássicos. “Sexta-Feira 13“, “Halloween“(que ganhou dois filmes ainda), “A Hora do Pesadelo“, “Black Christmas” e “O Massacre da Serra Elétrica” são alguns dos exemplos mais famosos. E “Pânico 4” consegue ironizar todos esses lançamentos ao mesmo tempo que serve como um espécie de remake não assumido da franquia para um nova geração.

Na história do quarto filme, o espectador acompanha novamente a sobrevivente Sidney Prescott que está numa turnê promovendo seu novo livro “Out of The Shadows” e a sua próxima parada é a sua cidade natal Woodsboro. Quando ela chegar lá, a protagonista irá ficar na casa de sua tia a qual possui uma filha, Jill. Tal visita irá acontecer no aniversário do massacre visto no primeiro filme e um dia antes dela voltar para sua cidade, ocorre um assassinato brutal envolvendo duas vítimas que tem o mesmo padrão do assassino Ghostface. Agora ela terá que enfrentar esse novo assassino que está interessado em sua família, principalmente em Jill e seus amigos.

                                                 Um remake “não assumido”

Como já havia falado anteriormente, “Pânico 4″ é uma especie de remake não assumido. Todos os novos personagens lembram de forma proposital vários do original: Jill é claramente a nova Sidney Prescott; Kirby, sua amiga, possui vários traços da divertida Tatum; Olivia apresenta uma mistura de Tatum com Casey Becker; Robbie é o novo Randy, sendo um grande fã de filmes de terror; Charlie é o novo Stu, sendo outro grande entusiasta do gênero e é o presidente do clube de cinema do colégio( Robbie é o co-presidente) e Trevor é claramente o novo Billy Loomis. Quem é fã da saga sentirá uma mistura de nostalgia com satisfação ao se deparar com os novos personagens. Eles não são apenas representações fúteis dos personagens do original só que feitos de forma preguiçosa, eles são facilmente relacionáveis que despertam o interesse do público.

Uma das novidades nesse filme é o retorno de Kevin Williamson, que estava ausente no terceiro filme da franquia, como o roteirista. Kevin é um dos pais da franquia, juntamente com o diretor Wes Craven que dirigiu todos os filmes da saga, e tal retorno casou-se perfeitamente com a intenção de voltar às origens da saga. O roteiro é ágil, cheio de piadas sarcásticas e o modo como ele ironiza os remakes é sensacional. Ainda fazendo auto-ironias, como o fato de Sidney nunca ter morrido na saga, apenas os seus amigos fazendo com que pareça mais um capítulo de “Premonição” do que “Stab“(para os que não lembram, “Stab” é a representação de Pânico dentro do próprio universo da saga). Williamson teve muito o que trabalhar aqui e consegue fazer tudo de uma forma incrível. Ele parece ter sentido saudade da franquia e os fãs também.

                                                 New Decades, New Rules

A tragédia de uma geração é a piada da próxima”

Não dava para se lançar uma quarta parte da franquia ironizando o terror dos anos 90 e muito menos um quarto capítulo, pois não há muitos exemplos deles no cinema e raramente há um padrão específico para eles. Agora é um nova década, um novo século. O público já havia entrado na onda da franquia “Jogos Mortais“, “Atividade Paranormal” e “Bruxa de Blair“. Com novos atrativos para o terror, novas regras. Agora tudo tem que ser mais violento, o imprevisível é o novo clichê, não é mais o virgem que sobrevive (Ainda há uma piada com o fato de o único jeito de sobreviver a um filme de terror atual é sendo gay), tudo está diferente. Se “Pânico 4” fosse ironizar aquela época de novo, o novo público não iria entender e  provavelmente iria fazer com que o novo filme se tornasse motivo de galhofa.

Logo em sua cena de abertura, o filme consegue ironizar a nova franquia do momento na época(“Jogos Mortais”) e fazer uma auto-paródia sobre o como a abertura se repete: uma garota loira atende um telefone de alguém misterioso e morre de uma forma bruta por um assassino mascarado. Wes Craven e Kevin Williamson consegue trazer uma metalinguagem jamais vista na saga, brincando com todas as expectativas do espectador. Uma cena de abertura sensacional que mostra o como a franquia voltou as suas origens.

As mortes nesse filme estão sensacionais. Com já dito anteriormente, elas estão muito mais brutais do que as dos filmes anteriores. Em especial, uma cena envolvendo o armário é impressionante. Craven e Williamson criam uma iminente cena na mente do espectador para depois descontrai-lá e surpreende-lo. Outra cena em especial é a cena do estacionamento, ela é bem explorada por Craven; mas ele podia explorar mais alguns cantos, o diretor tem capacidade disso; com toda a tensão crescendo pouco a pouco, mesmo que em seu fim conte com um clichê que quase destrói toda a cena. A voz de Roger L. Jackson volta aqui mais sarcástica do que nunca dando uma ar provocante ao novo assassino. A invenção criada no terceiro filme de múltiplas vozes foi, felizmente, ignorada por Williamson dando mais espaço para que Roger brilhasse.

                                                         Out of the Shadows

Se fui uma vítima por muito tempo, cabia a mim me reinventar.”

Como evoluir uma personagem que já foi tão explorado nos filmes anteriores? Foi provavelmente essa a pergunta que Craven e Williamson se depararam durante a produção do filme. No primeiro filme a protagonista era apenas a vitima(mesmo sendo muito diferente das vistas no gênero); no segundo era alguém que queria esquecer dos seus traumas que havia passado; no terceiro uma mulher isolada, pois esse era o único modo que ela sabia que poderia salvar os próximos e no quarto filme ela renega o título de apenas uma vítima dada pela mídia, sendo representado pela a sua obra literária “Out of The Shadows“. Uma analogia a saída dela da sombra de ser uma vítima, para ser uma sobrevivente. É isso que Sidney Prescott se provou ao longo dos filmes da saga: uma sobrevivente nata.

Neve Campbell voltou com outra atuação espetacular, a sua melhor de todos os filmes. Ela consegue transmitir todos os sentimentos de dor e compaixão que ela sente pelas perdas de sua sobrinha Jill. O crescimento da personagem foi proporcional à melhora da atuação de Neve. E ela não é o único acerto do elenco. Courtney Cox é engraçada o suficiente para segurar a sua própria investigação, Hayden Panettiere consegue ser tão engraçada como a Tatum. Das novas personagens, ela foi a que me mais se destacou. Emma Roberts está incrível como Jill se mostrando apta para ser uma nova Sidney, Erik Knudsen e Rory Culkin  são ótimos e Marielle Jaffe é carismática. As também novas adições de Allison Brie e Marley Shleton são muito bem vindas adicionando personalidade as suas personagens. O único que parece deslocado é David Arquette, mas pela culpa do roteiro que não desenvolve muito bem o personagem.

                                             Revelação e Trilha Sonora

Marco Beltrami traz um trabalho incrível na trilha sonora. Resgatando temas de alguns personagem principais e criando novos temas como “You`re Not Real“,  “Which Closet” e “Sid`s  Advice” são ótimos. A revelação do assassino foi completamente inesperada com Craven e Williamson dando um plot-twist sensacional ao filme. O motivo da matança foi algo que dividiu muito o público: uns adoraram a ousadia de Williamson de fazer uma espécie de crítica ao comportamento dos jovens enquanto outros acharam os motivos muito fúteis. Pessoalmente, estou no primeiro grupo. Todo o monólogo que o assassino justificando as suas ações é sensacional.

                          Uma obra que respeita tudo o que já havia sido feito

Pânico 4″ foi o filme que a franquia precisava para uma nova geração. Sem poupar na metalinguagem, apresentando um nível mais alto de brutalidade comparado ao que já havia sido apresentado, personagens carismáticos, ótimas atuações e um grande respeito aos primeiros filmes que acabou envolvendo todos os fãs na história. Uma pena a sua baixa arrecadação comparada aos filmes anteriores o que acabou sepultando a ideia de se fazer uma nova trilogia. Tal possibilidade se tornou ainda menos possível quando em 2015 todos os fãs ficaram levaram o susto final: Wes Craven, um dos mestres do slasher, havia morrido. E se um dia, houver novos filmes da franquia, sem Wes Craven, eles não serão a mesma coisa.

Título Original: “Scream 4” (2011)

Direção: Wes Craven

Roteiro: Kevin Williamson

Elenco: Neve Campbell, Courtney Cox Arquette, David Arquette, Emma Roberts, Marley Shelton, Hayden Panetierre, Adam Brody, Nico Tortorella, Anna Paquin, Kristen Bell, Lucy Halle, Rory Culkin, Alisson Brie

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