Crítica | A Múmia (2017)

A ideia do “Dark Universe” era algo ambicioso e arriscado desde o início. Aproveitando o sucesso dos universos cinematográficos da Marvel e da DC, a Universal queria ter seu próprio universo e escolheu como base em uns de seus personagens mais famosos nos cinemas: Os monstros. Inicialmente o universo iria começar com “Drácula: A História Nunca Contada”, porém como o filme não arrecadou o suficiente , e acabou deixando de ser considerado o estopim desse universo. Foi confirmado que o universo iria começar agora com uma nova versão de “A Múmia” onde a principal mudança era que o ser amaldiçoado seria uma mulher. “A Múmia” tinha uma grande carga em cima de seus ombros: fazer com que o público tivesse confiança em relação ao novo universo de monstros e mostrar que eles ainda podem encher salas de cinema.

Na história, o espectador acompanha o aventureiro Nick Morton e o seu companheiro Chris Vail que ganham dinheiro descobrindo antiguidades e vendendo-as no mercado negro. Em uma dessas missões para descobrir antiguidades, eles, junto com a arqueóloga Jenny Halsey, acabam descobrindo o sarcófago de uma antiga princesa do Egito, Ahmanet que nunca apareceu em nenhum registro histórico. Quando transportavam o seu lugar de descanso eterno, descobrem que na verdade aquilo era uma prisão para conter um poder maléfico e destrutivo.

O roteiro escrito por David Koepp, Christopher McQuarie e Dylan Kussman é amarrotado de problemas. Dá para sentir pelo texto da história a pressão de se construir um universo compartilhado onde parece que o filme é apenas uma ponte para o que estra por vir. Tal sentimento é perfeitamente representado pelo personagem de Russel Crowe, onde não irei revelar para poupar qualquer spoiler. O roteiro também não sabe que gênero o filme deve ser passando pelo terror para a aventura de uma hora para outra. Quando entra no terror o filme consegue construir uma pequena atmosfera que não pode ser maior graças aos vários jumpscares que aparecem no filme onde nenhum funciona. Quando ele entra na ação, ele não apresenta nada diferente do que já foi visto anteriormente com muitas sequências de ação sofrendo com algumas cheias de câmera tremida. A única sequência de ação memorável é a que ocorre em um avião filmado com gravidade zero que se estendeu até o momento certo, e que foi vista parcialmente nos trailers.

A sequência que explica a história de Ahmanet é a melhor cena do filme, contando com uma excelente fotografia e um design de produção muito bonito. Infelizmente, a nova múmia é uma vilã completamente unidimensional que deseja apenas dominar o mundo sem que, ao contrário dos filmes antigos, o espectador se solidarize com a sua figura. Ahmanet foi desde sempre uma figura diabólica. E Sofia Boutella faz um trabalho notável como a nova múmia com um olhar penetrante que exprime a fúria e o ressentimento que todos os anos que ela passou dentro do sarcófago pesaram tudo isso reforçado com o seus “quatro olhos”. Os seus primeiros visuais também foram um acerto com o espectador vendo ela primeiramente como um esqueleto mumificado. As cenas em que a princesa se destaca são as cenas que ela usa de sua inteligência para manipular quem está ao seu redor. O retorno das maldições envolvendo ratos, corvos e tempestades de areia foi muito bem vindo.

No campo da atuação, Tom Cruise parece estar um pouco no modo automático, mas consegue ser carismático nas suas cenas. Anabelle Wallis é uma boa atriz, mas a sua personagem parece deslocada querendo a todo o tempo dizer que não é a moça em perigo da história para que se torne exatamente isso no ato final. Jake Johnson se sai muito bem em seu papel sendo o alívio cômico da produção tendo uma ótima interação com Tom Cruise o que deixa o espectador se perguntando o motivo de ele de repente sumir da história do filme ficando todo o segundo ato ausente da produção. Courtney B. Vance faz um papel totalmente esquecível sendo um desperdício de seu talento.

Nos seus dois primeiros atos, mesmo com seus problemas, o filme flui bem. O principal problema se encontra no seu ato final. Nessa parte o filme se torna mais grandioso com cenas de ação que não empolgam e o conflito final foi decepcionante. O roteiro também demonstra uma grande covardia no ato final só aumentando o sentimento de que o filme só serviu como uma base para estabelecer novos filmes, porém sem se preocupar com o seu desfecho. A edição também é um pouco problemática com alguns cortes rápidos e bruscos na maioria das cenas de ação.

O CGI do filme é excelente casando muito bem com a maquiagem que realça toda a degradação que Ahmanet sofreu ao longo de milênios sendo atenta aos detalhes, como as grandes  e cinzentas unhas da personagem. A trilha de Brian Tyler também é outro acerto com temas que reforçam o desejo da adoração de Ahmanet como uma deusa. Para quem é fã dos filmes de monstros irá se deliciar com o laboratório da Prodigium que é cheio de referências a vários filmes incluindo o filme “A Múmia de 1999 servindo como um grande fanservice.

A Múmia” não foi o começo que o “Dark Universe” precisava para ter confiança do público. Ele conta com dois atos bons que sofrem alguns problemas, mas não suficientes para desgostar do filme; boas tiradas cômicas e uma leve e não muito eficientes pegadas ao terror; infelizmente o seu terceiro ato quase estraga de vez toda a projeção acentuando os problemas de roteiro que o filme sofre. A nova iniciativa da Universal tem que melhorar os seus rumos se não vai virar algo que deveremos temer, no mau sentido.

Título Original: “The Mummy” (2017)

Direção: “Alex Kurtzman”

Roteiro: David Koepp, Christopher McQuarie e Dylan Kussman

Elenco: Tom Cruise, Sofia Boutella, Anabelle Wallis, Russel Crowe, Jake Johnson, Courtney B. Vance, Marwan Kenzari, Selva Rasalingam

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