Recomendação | Jornada nas Estrelas: Enterprise

Já faz um bom tempo desde que fiz um post de recomendação para uma outra série baseada no universo da franquia Star Trek. Como um bom fã, não poderia perder a oportunidade de recomendar ainda mais conteúdo dessa franquia que tanto aprecio, portanto, a bola da vez é a série mais “recente” deste universo antes do reboot feito por J.J. Abrams em 2009.

Sempre se esforçando para nos apresentar diferentes temáticas sempre que possível, os produtores Brannon Braga e Rick Berman, que já haviam participado na produção de outras séries da franquia, decidiram investir num projeto um tanto quanto incomum para a época: criar uma série prequel. Indo mais além, a dupla revelou que a série seria ambientada 10 anos antes do surgimento da Federação dos Planetas Unidos com o foco se mantendo nas aventuras da primeira nave estelar humana capaz de atingir velocidade de Dobra 5, batizada como Enterprise.

O episódio piloto, intitulado “Broken Bow“, foi ao ar em 26 de Setembro de 2001 e alcançou a marca de 12,54 milhões de expectadores. Além disso, a série também foi a primeira produção a ser exibida em formato widescreen (mais tarde passou a ser transmitida em HDTV). Ao todo foram produzidos 98 episódios divididos em 4 temporadas, um número bem baixo se comparado com The Next Generation que contou com 178 episódios divididos em 7 temporadas, porém vou explicar o motivo mais adiante.

De uma forma geral, Enterprise é bastante competente dentro de sua proposta, afinal, se trata de um capítulo dentro da história da franquia que nunca havia recebido atenção. Qualquer fã médio sabe a importância que o vôo em velocidade de dobra, realizado pelo Dr. Zefram Cochrane, teve para a raça humana, sendo o principal catalisador para o início de uma nova era para todos os habitantes da Terra. Até pouco tempo, uma 3ª Guerra Mundial devastou praticamente tudo o que a humanidade levou tanto tempo para reconstruir após décadas de conflitos armados e a única perspectiva que havia no horizonte era a extinção.

Quase que por um milagre, o vôo realizado por Cochrane chamou atenção dos vulcanos (uma raça de alienígenas humanoides que são guiados pela lógica). Pouco depois de retornar à Terra, uma nave vulcana pousa num local próximo a um assentamento de sobreviventes da guerra realizando assim o famoso Primeiro Contato. Tudo o que aconteceu após esse histórico evento marcou o início de uma era de paz e prosperidade para a raça humana, que agora podiam contar com a ajuda de uma civilização tecnologicamente mais avançada para construir um futuro melhor para todos.

                                                                                    O Primeiro Contato

Agora imagine um mundo onde não existem mais guerras, doenças, poluição e onde as pessoas estão de fato unidas para cooperar na construção de um futuro promissor. Não demora muito para que aos poucos a raça humana comece a construir colônias fora da Terra e a Frota Estelar seja criada, tudo isso no intuito de que em breve seria possível explorar novos mundos, novas civilizações e ir audaciosamente onde ninguém jamais esteve.

Toda essa ambientação positiva e esperançosa foi muito bem representada pela abertura da série que, fugindo das aberturas orquestradas que haviam sido utilizadas nas séries anteriores por anos à fio, recebeu de fato uma música que capta totalmente a atmosfera presente ao longo das 4 temporadas … o resultado é uma bela de uma homenagem à todos os homens e mulheres que dedicaram suas vidas à descobertas e progresso.  Confira agora:

Mais algumas décadas se passam até que finalmente chegamos no ponto do tempo onde a série começa sua narrativa, o que nos remete ao episódio piloto. Em suma vemos um klingon sendo perseguido por dois outros alienígenas até então desconhecidos, um combate é travado dentro de um vasto milharal e a dupla de perseguidores é eliminada após um armazém explodir com ambos dentro. Após ouvir o barulho dos tiros, o dono da fazenda se depara com o klingon nervoso e o atinge com um tiro deixando-o quase morto.

Não demora para que a Frota Estelar seja informada do ocorrido e comece a pensar em que curso de ação tomar. Nesse primeiro momento somos apresentados à Jonathan Archer, filho do famoso cientista Henry Archer – o responsável por projetar e construir o primeiro motor espacial capaz de atingir a velocidade Dobra 5. Alegando que esta seria a oportunidade ideal de fazer contato com outras espécies, Archer se prontifica a levar Klaang ao seu mundo natal e assim deixar uma boa impressão sobre a raça humana lá fora. Tudo estaria relativamente bem se não fosse pela intervenção do embaixador vulcano Soval que considera toda essa “afobação” como sendo mais uma prova de que os humanos ainda não estão prontos para explorarem as estrelas sozinhos.

Após algumas discussões acaloradas sobre o fato dos vulcanos estarem deliberadamente atrasando o progresso dos humanos em seu programa espacial, Archer consegue convencer o comando da Frota a aprovar a missão e logo em seguida, o capitão parte para convocar os tripulantes que restam. À contragosto de Jonathan, o Alto Comando Vulcano ordena que T’Pol, uma de suas oficias, permaneça à bordo da Enterprise como uma espécie de “conselheira”. Sem tempo para recorrer desta decisão, o capitão Archer parte em sua primeira missão à bordo da Enterprise, porém, muito ainda iria acontecer no decorrer da viajem até Qo’nos (planeta natal dos klingons).

                                                            T’Pol, a única tripulante vulcana da nave.

No meio do percurso, Klaang é sequestrado pela mesma raça de alienígenas que o perseguiam no começo do episódio o que deixa Archer preocupado com as implicações de não cumprir sua missão. Após descobrir o paradeiro de seu “passageiro”, o capitão descobre que os sequestradores são conhecidos como Sulibans e que há muito mais coisas em jogo por trás desse sequestro. Aqui somos introduzidos a um conflito demasiado perigoso que em breve poderá comprometer o futuro de tudo aquilo que já foi estabelecido nas séries anteriores, estamos falando de uma Guerra Fria Temporal cujo principal objetivo envolve alterar eventos passados para que as facções participantes do conflito obtenham a soberania na galáxia … é amigos, aqui temos muito pano pra manga!

De forma geral, as duas primeiras temporadas ainda seguem o modelo episódico que predominou por pouco mais de uma década nas séries anteriores. Infelizmente essa decisão se revelou uma faca de dois gumes, se por um lado essa escolha era justificada (afinal de contas o quadrante mal havia sido explorado, então faz todo o sentido vermos uma grande quantidade de episódios cuja trama era contida e geralmente não eram deixadas conexões para os capítulos seguintes),  por outro isso colaborou para que, aos poucos, a série fosse perdendo audiência até que foi cancelada na 4ª temporada … felizmente, a CBS deixou um final minimamente decente apesar de tudo.

Na 3ª temporada a tripulação da Enterprise será testada ao limite quando a Terra é atacada pelos Xindis, deixando cerca de 4 milhões de vítimas. Aqui o clima fica um pouco mais pesado e nos mostra uma faceta dos personagens principais que até então não havia sido mostrada, principalmente da parte do capitão Archer que termina por adotar posturas questionáveis para “vingar” as mortes ocorridas.  Não muito depois de adentrarem numa região desconhecida do espaço, a tripulação descobre que os Xindis estão desenvolvendo uma arma ainda mais poderosa, capaz de destruir um planeta inteiro com um único disparo (onde eu já vi essa história mesmo? xD).

O desfecho dessa trama é sensacional e compensa os 20 e tantos episódios da temporada, especialmente pela possibilidade deixada para que no futuro a raça humana una forças com outras espécies numa espécie de coalizão ou Federação. A temporada final é focada basicamente na criação da Federação dos Planetas Unidos, o resultado é show de referências que deixaria qualquer fã bastante animado, especialmente por dois episódios específicos que remetem ao chamado “Universo Espelho” (quem assistiu o episódio ‘Mirror, Mirror‘ da Série Original sabe do que estou falando), é muito bacana vermos versões malvadas de todos os personagens principais.

                                                       A “nova” Enterprise saindo da doca espacial.

O carisma dos personagens principais é um dos pontos positivos da série, começando pelo Comandante Charles Tucker III (ou simplesmente “Trip” como o apelidam). Se trata de um homem com seus 30 e poucos anos, possui uma personalidade um tanto quanto impulsiva e um senso de humor um pouco ácido. Foi escolhido por Jonathan Archer como o engenheiro chefe da Enteprise e não demora para percebermos a razão para tal decisão, salvando a nave diversas vezes em momentos de tensão.

A sub-comandante T’Pol é outra peça valiosa da tripulação além de ser uma personagem de destaque, em boa parte pela atuação de Jolene Blalock que conseguiu mergulhar no papel de forma magistral. No começo ela age como uma espécie de “bábá” da tripulação já que sempre está tentando conter o entusiasmo, por vezes exagerado, que o capitão e o resto dos tripulantes demonstra em explorar cada planeta que encontram. À medida que o tempo passa é possível perceber que a mesma cria laços de amizade e lealdade muito fortes com seu capitão, uma clara alusão ao relacionamento que Kirk e Spock terão no futuro. Mais tarde ela se envolve romanticamente com o comandante Tucker, algo inédito considerando o histórico de personalidade e cultura do povo vulcano.

Não posso deixar de falar do capitão Archer e seu carisma contagiante, um homem sonhador e cheio de motivação para fazer o que faz. É notável o entusiasmo dele durante as duas primeiras temporadas em sair explorando as estrelas, em especial pela visão que tem de um futuro promissor onde há cooperação entre diversas espécies na construção de um futuro melhor para todos. O mesmo amadurece bastante após os eventos da 3ª temporada onde acaba por ter seu caráter testado inúmeras vezes, ainda assim ele aprende com seus erros e se torna um comandante ainda melhor do que era no início. No fim das contas ele desempenhará um papel importantíssimo num futuro próximo graças aos seus esforços em unir raças em um objetivo comum.

                                                           Tucker se fazendo de bom moço.

De uma forma geral a série não decepciona em nos entregar uma aventura espacial e suas diversas facetas, como já é de costume da franquia. A ambientação foi muito bem pensada já que seria necessário respeitar aquilo que Gene Roddenberry havia estabelecido nos anos 70 com a Série Original, isso vai desde os uniformes (cujas marcas coloridas remetem ao tipo de posto ocupado pelo tripulante – Amarelo para postos de Comando; Vermelho para oficiais de engenharia e segurança; Azul para o pessoal da área médica e oficiais de ciências), as tecnologias empregadas na Enterprise (no começo ela usa mísseis ao invés de torpedos fotônicos além de não possuir escudos) e mais um monte de referências a elementos pertencentes à séries e filmes “futuros” (os Borgs até fazem uma ponta no episódio da segunda temporada intitulado “Regeneration” como consequência direta dos eventos de ‘Primeiro Contato‘ – análise em breve).

Aqueles que preferem arcos fechados irão gostar das duas últimas temporadas, se for um fã então, só posso dizer que é um prato cheio. Caso você esteja interessado em conhecer a franquia mas não sabe por onde começar (ou caso tenha sempre o hábito de ver tudo em ordem cronológica) então Jornada nas Estrelas: Enterprise é o caminho certo a ser seguido. Com apenas 4 temporadas com seus 20 e poucos episódios fica bem mais fácil conferir o começo de tudo nessa prequel e garanto sua satisfação ao final da série.

Prontos para começar a explorar a galáxia ao lado de Jonathan Archer e seus oficiais? Então pode correr pra Netlfix e assistir todos os episódios dessa série fantástica!

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