Resenha | Junji Ito – Fragmentos do Horror

O mangaká japonês Junji Ito, talvez seja hoje, um dos maiores nomes do gênero de terror. O autor tem influencias de grandes nomes como Yasutaka Tsusui (Paprika) e H.P. Lovecraft (Chamado de Cthullu, Necronomicon) formando um estilo que mistura o terror ao surrealismo, erotismo, repulsa e desconforto.

 Tendo em sua lista de obras, os aterrorizantes e aclamados Uzumaki, Tomie e Gyo, é uma grande pena que nenhuma dessas histórias tenham dado as caras em uma edição brasileira até agora. Para acalmar os ânimos (ou não), a Darkside Books trouxe para o Brasil em 2017, uma edição de Fragmentos do Horror, a mais recente coletânea de contos escrita por Junji Ito. A obra reúne oito contos que exploram bastante as diferentes características da escrita de Ito. Tornando uma obra perfeita tanto para os que querem conhecer o autor, quanto para fãs de longa data.

Futon, a história de abertura é bem curta e talvez a trama mais simplória da coletânea. Porém se destaca na arte com um grande painel recheado de monstros grotescos e bizarros.

Monstro de Madeira é um enredo que conta com o lado mais bizarro de Ito, passando pelo erotismo e desconforto. Nele, pai e filha moram em uma antiga casa que acaba de se tornar patrimônio cultural. Logo após isso, eles aceitam conviver com uma estudante aficionada pela arquitetura da casa. Tanto a estranheza da casa quanto da inquilina inconveniente assustam e levam a uma reviravolta para o vale da estranheza e quebra do habitual.

Gola Rulê Vermelha, é a história de um garoto que tem que segurar sua cabeça que se soltou do pescoço para que ela não caia. O conto se destaca com um terror contado de uma maneira inusitada e que certamente viraria algo cômico se escrito pelas mãos erradas.

Suave Adeus é a mais tranquila em questão de terror, mas compensa no fantasioso e sobrenatural. Na trama, uma família possui um ritual que funciona como um velório ao contrário, aonde velam o corpo e o espirito do ente morto se manifesta no mundo dos vivos como se nunca tivesse morrido. A reviravolta do final é o verdadeiro grande susto.

Dissecação-chan, já diz ao que vem no próprio nome. O conto é sobre uma mulher que tem fetiche em ser dissecada, e para isso invade aulas de dissecação em faculdades e pede para ser dissecada. Essa situação faz o médico professor lembrar de um passado desconfortante que ele tinha com a personagem. Tanto em questão visual quanto narrativa essa talvez seja a história com “pacote Junji Ito” completo, com situações de constrangimento e fetiches estranhos sendo usados como forma de terror aliados a cenas corpos abertos e órgãos a mostra.

Pássaro Negro conta com uma influência de mitologia japonesa e conta sobre um escalador de montanhas que acaba se acidentando e caindo. Ele fica preso na montanha por dias, mas sobrevive por conta de um pássaro negro que vem lhe visitar e alimenta-lo com uma deliciosa carne misteriosa. Pássaro Negro usa bastante da repulsa e mistério para contar a história. Também mostra um enredo mais complicado que os outros em uma reviravolta final que já teve falha em outras histórias, mas nessa funciona de forma simples e gostosa de se ler.

Magami Nanakuse é o nome tanto do conto, quanto de uma personagem que faz parte dele. A personagem principal é uma “fã stalker” de Magami Nanakuse, uma escritora transgênero que só escreve livros sobre hábitos bizarros. A fã, inspirada em seu ídolo decide começar carreira como escritora e para isso vai pedir ajuda para Nanakuse diretamente em sua casa, porém encontra algo bem pior. Esse é outro conto que tira terror de narrativas inusitadas e pincela um pouco do humor também, mas sem se tornar galhofa. Você nunca vai ler outra história de terror sobre tiques bizarros que dá tão certo quanto essa.

A mulher que sussurra é um conto sobre uma garota confusa que precisa de uma assistente sussurrando em seu ouvido todas as decisões que precisam ser tomadas. É uma história que traz um lado um pouco emocional e é cheia de mistério também. Outra que poderia ser colocada fácil entre as grandes artes presentes nessa coletânea.

A edição brasileira além de abrir a coleção Graphic Novel – Tokyo Terror da Darkside Books, também é o segundo manga em capa dura lançado no Brasil (o primeiro é o kanzenban de cavaleiros do zodíaco). É possível sentir o costumeiro acabamento de luxo que a editora costuma dar, pela capa feita com efeitos especiais e também pela gramatura do papel, que não compromete a leitura.

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