Crítica | Kill Bill Vol. 1 e 2

Kill Bill é um projeto tão ”doentio” e assustadoramente original que só poderia ter sido concebido por alguém como Tarantino, um nerd que passou sua adolescência dentro de uma videolocadora e fez sua fama. jogando no liquidificador todas as referências possíveis acumuladas através dessas experiências nos seus filmes.

Recusando-se a cortar qualquer sequência, Tarantino, aliado aos Estúdios Miramax, responsáveis pela produção, resolveu seguir a tendência iniciada com as sagas O Senhor dos Anéis e Matrix (1999-2003), e simplesmente cortou o filme ao meio! Desse modo, o Volume 1 trata do início dessa trajetória de sangue, perdão, luta e raiva.

Bill (David Carradine) é o líder do Esquadrão Mortal de Víboras Assassinas composto ainda por Vivica A. Fox, Lucy Liu, Daryl Hannah e Michael Madsen. As duas primeiras representarão os conflitos que a Noiva deve enfrentar nesse primeiro filme. Kill Bill conta a história de vingança da Noiva/Beatrix Kiddo (The Bride/Beatrix Kiddo) interpretada por Uma Thurman contra seus ex-parceiros do Deadly Viper Assassination Squad (Esquadrão Assassino de Víboras Mortais)”. Há várias referências à cultura pop, ao subgênero western spaghetti, trash, blaxploitation, anime e filmes antigos asiáticos de samurai e kung fu (Wuxia).

A obra é cartunesca e exagerada a ponto de ser engraçada, uma grande comédia. Em certo momento, Uma enfrenta a gangue dos 88 Loucos, numa sequência para deixar Neo e os inúmeros Agentes Smith virtuais de Matrix Reloaded (2003) constrangidos. Uma Thurman é a grande estrela do filme. A atriz que ajudou Tarantino na construção de sua personagem, que começou lá na época das filmagens de Pulp Ficction , passou por um rigoroso treinamento (que incluiu aprender japonês, diferentes estilos de Kung Fu e de luta com espada e se equilibrar em cabos). Nas cenas de ação, uma emana grande naturalidade, nunca parecendo artificial. Acreditamos, realmente, que à nossa frente está uma perigosa assassina mestra em diferentes artes marciais.

Apesar da Noiva ser tão ou mais cruel que as pessoas das quais busca vingança, torçamos pela sua vitória, para que efetive sua vingança. As lutas são extremamente bem coreografadas e dirigidas . A fotografia de cores fortes de Robert Richardson deixa o filme visualmente belíssimo. Á estrutura não-linear da narrativa, que apresenta os acontecimentos fora da ordem cronológica (algo também típico de Tarantino), é incluída como mera distração, já que não desempenha função alguma (ao contrário do que ocorria nos trabalhos anteriores do diretor, quando ajudavam a criar tensão e a surpreender o espectador).

No Volume 2 Logo no início, vemos a Noiva, em fotografia em preto-e-branco, dirigindo um conversível. Ela já revela que só falta Bill para matar e o que vemos, a partir daí, é o que aconteceu antes desse momento da abertura, que só é retomado no final. Belatrix Kiddo (agora , ‘’A Noiva’’) é mais humanizada e a conhecemos antes de toda a brutalidade em seu casamento, quando ainda era mais apaixonada por Bill.

A cena de maior violência do filme acaba acontecendo na briga de Uma com a personagem de Daryl Hannah, que tem um final chocante, a violência continua, mas em tom menos exagerado. É Interessante como os homens no filme são mais ‘’calmos’’, comparado as mulheres que são mais piradas, mais violentas. Tarantino brinca menos com as referências e se preocupa mais em explorar o passado e o futuro de seus personagens.  A impressão que se fica ao final de Kill Bill – Volume 2, é de que os filmes se completaram perfeitamente. O resultado geral e final dão gosto de ver, é Tarantino , em sua melhor forma: roteiro e estética no mesmo nível, sem desequilibrar a balança.

Kill Bill: Volume 1 e 2 (Kill Bill , EUA –2003 e 2004)

Direção: Quentin Tarantino

Roteiro: Quentin Tarantino

Elenco: Uma Thurman, Lucy Liu, Vivica A. Fox, Daryl Hannah, David Carradine, Michael Madsen, Gordon Liu, Michael Parks, Julie Dreyfus, Chiaki Kuriyama, Sonny Chiba, Chia-Hui Liu, Jun Kunimura

Duração: 111 min.

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