Análise | A Máquina do Tempo – H.G. Wells

 

A ficção Científica “A Máquina do Tempo”  originou o subgênero dos filmes de viagens no tempo, mostrando a personalidade singular de H.G. Wells como um dos maiores escritores de Ficção Científica e um dos maiores Futuristas de todos os tempos.

As Obras de HG Wells e suas Previsões

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A viagem no tempo da clássica história “A Máquina do Tempo” leva o viajante do tempo ao futuro, precisamente no ano 802.701 D.C. e o traz novamente até a era vitoriana onde conta o seu relato. É uma viagem fantástica que coloca o narrador numa posição desconfortável de “lunático” ou de possível mentiroso.

Esse mote do narrador lunático ou com pouca credibilidade já foi explorado no filme “Os 12 Macacos” e ainda melhor na série homônima. Mostrando que muitas coisas imaginadas por Wells que estavam associadas à Viagem no Tempo iriam permanecer como uma marca registrada desse tema nas gerações futuras.

Algumas previsões de HG Wells

– O tempo como a quarta dimensão
The Time Machine, 1895

– Lasers como armas
The War of The Worlds, 1898

– Tanque de Guerra
The Land Ironclands, 1903

Aviões como Armas de Guerra
The War in The Air, 1907

– A Bomba Atômica 
The World Set Free, 1914

– Correio de Voz
Men Like Gods, 1923

Não coloquei no post a invisibilidade (The Invisible Man) porque até agora tal feito ainda não foi atingido, mas HG Wells foi o primeiro escritor a falar sobre a invisibilidade em termos científicos, por oposição a invisibilidade como poder mágico nas lendas e nos mitos.

Atualmente vários cientistas procuram pelo segredo da invisibilidade estudando metamateriais e seus resultados são promissores. A invisibilidade no espectro da radiação vísivel não é mais um sonho impossível, agora é só uma questão de tempo até fabricarem uma capa da invisibilidade capaz de ocultar a forma humana perfeitamente.

O Tempo como a Quarta Dimensão

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Em termos qualitativos HG Wells explicou as bases do que viria ser a Teoria de Einstein do Espaço-Tempo. Como ele poderia ter adivinhado? Esse é apenas mais um dos feitos de HG Wells como visionário e como futurista.

No século 19, Wells tentou escrever um livro que tratava do tempo como quarta dimensão da realidade física e ele não foi bem aceito pelo seu editor que não entendeu nada da argumentação de Wells. Depois dessa tentativa frustrada ele resolveu se dedicar integralmente a escrever sobre ficção, onde poderia colocar suas ideias sobre o mundo físico real utilizando a ficção científica como um meio de expressão.

Exatamente dez anos após a publicação do livro A Máquina do Tempo, em 1905, Albert Einstein publicou seu artigo sobre A Teoria da Relatividade onde lança as bases teóricas para o tempo como quarta dimensão da realidade física!

As mesmas conjecturas de HG Wells utilizou em seu livro estavam agora num trabalho científico. Hoje em dia não temos nenhuma dúvida que o tempo é a quarta dimensão física de representação.

Entre a Fantasia e a Realidade

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HG Wells utiliza com maestria o discurso científico para ajudar na suspensão da descrença, se por um lado ele não explicou qualquer detalhe sobre o mecanismo da máquina de viagem no tempo, por outro lado foi especialmente zeloso com o background teórico de tal viagem se ela fosse possível.

Ele se resumiu a mostrar a máquina como um dispositivo com um assento e com duas engrenagens conectadas a duas alavancas, uma que move a máquina para o futuro e outra para o passado. O próprio Julio Verne foi um crítico do trabalho de Wells, dizendo que ele “inventava” as coisas, uma crítica meio sem sentido, não acham?

Uma curiosidade da máquina do tempo de HG Wells é que ela não se movia no espaço, mostrando que Wells queria o máximo possível proporcionar uma narrativa coerente com suas premissas iniciais.

Em todo o livro o “viajante do tempo” pouco se afasta da região onde ficava a sua casa na Inglaterra vitoriana, pois a máquina não poderia se teleportar arbitrariamente pra qualquer região do espaço como faz a Tardis do Dr. Who, por exemplo.

Pela teoria do Einstein a viagem no tempo para o futuro numa mesma linha temporal é possível, mas é uma viagem sem volta, você pode ir ao futuro, mas não pode voltar.

Um dos méritos da Máquina do Tempo que pode ser considerado como o livro mais fantasioso da carreira de HG Wells foi ele se equilibrar sobre o fio da navalha do sonho e da realidade, deixando o leitor inseguro sobre estar lendo acerca de teorias plausíveis ou meras conjecturas de uma mente sonhadora. A todo o momento na narrativa do “Viajante no Tempo” somos lembrados que o mesmo poderia ter se enganado e que esse feito tão incrível poderia ser fruto de sua imaginação.

Elois X Morlocks

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Outra liberdade poética que Wells usou no texto da Máquina do Tempo e que hoje seria motivo de várias críticas foi à justificativa que encontrou para o surgimento de duas sub-raças humanas que aparecem no livro.

Os Elois, criaturas frágeis e insossas da superfície contrastam com os monstruosos Morlocks, habitantes grotescos do subsolo. Os primeiros teriam se originado da decadência da classe abastada cada vez mais dependente de máquinas e de serviços de terceiros para a sua subsistência e os segundos seriam originários da classe trabalhadora cada vez mais oprimida pelo trabalho regrado e metódico da era pré-industrial. Após
milhares de anos a evolução iria supostamente produzir uma cisão biológica entre essas duas subclasses sociais da humanidade.

O argumento é frágil, pois a evolução nessa escala não acontece em intervalos de milhares de anos, mas de milhões de anos. Embora o argumento de Wells seja frágil do ponto de vista científico, ele serve muito bem ao propósito de discutir as relações sociais na época que foi escrito. É, sobretudo, uma crítica social disfarçada de ficção científica.

Gene Roddenberry, criador da série clássica Star Trek, foi outro autor que utilizou bastante à ficção científica como um meio fantástico para abordar coisas pertinentes ao cotidiano, cheio de relações sociais conflitantes como a guerra, o racismo, a intolerância religiosa, o sexismo, a rebeldia contra a autoridade, às experiências científicas desonestas e etc.

O argumento utilizado por Wells estimula uma reflexão saudável sobre o desejo de progresso tipicamente amoral e maquiavélico que coloca como objetivo coletivo da humanidade melhorar “as condições de vida” numa escala imaginária de progresso, sem se preocupar com as implicações éticas dessa jornada e nem com os meios que serão utilizados para atingir esse fim. Vide as grandes empresas como a Apple e o modelo de
terceirização das fábricas chinesas onde são produzidos os iPhones hoje em dia.

Os trabalhadores terceirizados que são levados ao extremo da fadiga e do estresse seriam os ancestrais dos Morlocks? E nós, os consumidores apáticos de tais produtos seremos escravos do consumismo nos tornando os precursores dos Elois?

A intenção do H.G. Wells foi estimular um debate, uma reflexão filosófica, entremeada de ciência e de fantasia, mas com temas relevantes. No fundo não importa se um dia a humanidade vai conseguir realizar o sonho da Máquina do Tempo, o que importa são as reflexões semeadas por HG Wells.

 A viagem no tempo na ficção científica hoje: Algumas séries de TV sobre o tema “Viagem no Tempo”

– O Túnel do Tempo
– Dr Who
– Quantum Leap
– Life on Mars
– Voyagers!
– Terra Nova
– Continuum
– 12 Monkeys

Uma curiosidade sobre a série 12 Monkeys é que ela está mais parecida com a clássica série “Túnel do Tempo” do que com o filme homônimo. Na série, inclusive, os viajantes são chamados de “travellers”, como viajantes no tempo genéricos e sem nome, tal como é chamado o cientista britânico desconhecido, o protagonista que inventa a máquina do tempo no livro de HG Wells.

Viagem no tempo na mesma linha temporal

Essa modalidade de viagem que foi criada em 1895 pelo HG Wells se baseia na ideia de que você pode ir normalmente para o futuro e depois retornar algum momento logo depois da sua saída, sem violar nenhuma lei da física. Einstein mostrou em 1905 que a viagem no tempo para o futuro era real, já o retorno do viajante para o passado, não.

Paradoxo do Avô (ou ruptura da causa-efeito)

Não se pode voltar ao passado e mudar acontecimentos do futuro, pois tais mudanças do passado podem inviabilizar a própria viagem no tempo e gerar paradoxos lógicos incorrigíveis.

Viagem no tempo em outra linha temporal

A viagem no tempo que apela para “universos paralelos” procura eliminar todos os paradoxos e não violar nenhuma lei da física. Apesar da falta de provas sobre a existência de universos paralelos essa é a forma de viagem que é a mais científica, pois admite a viagem para o futuro na mesma linha temporal, mas veda a viagem de retorno ao momento passado (da mesma realidade).

Livros, documentários, artigos e filmes recomendados

Livros
– A Máquina do Tempo – HG Wells
– A Física do Impossível – Michio Kaku

Documentários
– Os Profetas da Ficção Científica (apresentado por Ridley Scott)
– A Verdadeira História da Ficção Científica (History Channel)

Filmes
– Trilogia de Volta para o Futuro
– The Time Machine, 1960
– The Time Machine, 2002

O autor deste post prefere ficar no anonimato. Seu nick é ”N1N6U3M” .

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