Especial | Mestres do Cinema #1: Filmes para conhecer Woody Allen.

Saudações Geeks! O post de hoje será dedicado a um dos meus diretores favoritos, um proeminente e talentoso cineasta, ator, roteirista, escritor e, veja só, músico: Woody Allen.

Woody Allen, que é o nome artístico de Allan Stewart Königsberg, nasceu no dia 1 de Dezembro de 1935 no Brooklyn, Nova York. Ainda jovem, ingressou no mundo do entretenimento: com 15 anos escrevia para colunas de jornais e programas de rádio onde já assinava como Woody Allen. Nos anos 60, Allen já possuía uma respeitável e bem-sucedida carreira de comediante stand-up quando em 1965 teve a sua primeira experiência cinematográfica escrevendo e atuando em “What’s New Pussycat? ”e no ano seguinte dirigindo seu primeiro filme “What’s Up, Tiger Lily? ”.

Não demorou muito para que, além de escrever e atuar, Allen passasse a dirigir seus próprios filmes. Seus filmes mais conceituados são com certeza seus “dramas do cotidiano” e suas “comédias dramáticas do cotidiano” caracterizadas por roteiros repletos de personagens conflituosos seja em suas vidas profissionais ou amorosas (ou em ambas) e com múltiplas camadas, diálogos afiados e rápidos, seu humor elaborado com críticas à “burguesia pseudo-intelectual” e à sociedade consumista e hipócrita e, obviamente, com a cidade de Nova York sendo não apenas o cenário e pano de fundo de seus filmes, mas também uma personagem das histórias de Woody Allen. Allen quase sempre atua nos seus filmes como seu personagem mais conhecido: um judeu nova iorquino neurótico com um senso de humor ácido e irônico e com sérios problemas de relacionamento amoroso com as mulheres.

A renomada e premiada carreira como cineasta de Woody Allen atualmente abrange mais de 50 filmes, 23 indicações ao Oscar, que lhe renderam 4 estatuetas (3 por Melhor Roteiro Original e 1 por Melhor Diretor), sendo que dessas 23, 16 indicações foram por Melhor Roteiro Original, recorde absoluto da premiação.

Com uma carreira desse calibre, Woody Allen é sem dúvida um cineasta que deve ser “experimentado” pelos cinéfilos de carteirinha. E é pensando nisso que resolvi fazer uma mini-lista com 3 filmes de Woody Allen para aqueles que querem conhece-lo e se aventurar em seu mundo particular.

1) Hannah e Suas Irmãs (Hannah and Her Sisters, 1986)

Hannah e Suas Irmãs é um filme de 1986 escrito, dirigido e estrelado por Woody Allen. Inspirado pela peça “As Três Irmãs” de Tchekhov, Allen conta as histórias das irmãs Hannah (Mia Farrow), Lee (Barbara Hershey) e Holly (Dianne Wiest). Lee é uma pintora sem muito reconhecimento vivendo de seguro-desemprego que mora com o arrogante Frederick (Max Von Sydow) e não sabe que caminho tomar na vida. Holly é uma ex-atriz fracassada e depressiva que tenta abrir um negócio de sucesso com a sócia e melhor amiga April (interpretada pela nossa querida e saudosa princesa Carrie Fisher) e sonha em ser escritora. Enquanto Lee e Holly vivem suas crises existenciais, Hannah é a “irmã perfeita”: uma bem-sucedida atriz de teatro casada com um respeitado contador, e com filhos. Generosa e equilibrada, Hannah é o alicerce da família a quem os pais das três recorrem, que dá conselhos a Lee e ajuda financeiramente Holly. Mas a vida perfeita de Hannah (e a estrutura da família) fica por um fio quando Lee começa um romance secreto com Elliot (Michael Caine), o marido de Hannah que a tempos nutre tórridos desejos pela cunhada Lee.

Com um roteiro simples, mas primorosamente escrito, atuações precisas como a do próprio Woody Allen que entrega um de seus personagens mais engraçados interpretando o hipocondríaco ex-marido de Hannah, e sua direção característica capaz de inserir beleza na mais simples das ações, como a cena em que Lee lê o poema de E. E. Cummings indicado por Elliot no livro que ele deu de presenta a ela, Allen constrói em Hannah e Suas Irmãs um painel abordando temas recorrentemente presentes em sua filmografia: a intricada essência dos relacionamentos, da religião e também a complexidade da família que ora é o peso preso em nossos pés que nos puxa pra baixo e ora é o porto seguro onde encontramos amor e compreensão, usando como elemento para mostrar o fim e o início de um novo ciclo na vida das irmãs as reuniões familiares no feriado de Ação de Graças. Hannah e Suas Irmãs é um dos filmes mais aclamados do cineasta tendo recebido três estatuetas do Oscar: Melhor Ator Coadjuvante para Michael Caine, Melhor Atriz Coadjuvante para Dianne Wiest e Melhor Roteiro Original para Woddy Allen.

2) Meia-Noite em Paris (Midnight in Paris, 2011)

Filme de 2011 que rendeu a Woody Allen seu último Oscar por Melhor Roteiro Original, além de ter recebido indicações nas categorias Melhor Direção de Arte, Melhor Diretor (para Woody Allen) e Melhor Filme. Em Meia-Noite em Paris, Allen aborda novamente de sua forma inteligente e humorada a superficialidade e profundidade das relações e também a “idealização do passado”, aquela noção que temos de que o passado (geralmente aquele em que ainda não éramos nascidos) foi muito melhor e mais belo do que nosso presente e que por isso “nascemos na época errada”. Gil Pender (Owen Wilson) é um americano roteirista de programas de televisão que está tentando escrever seu primeiro romance e viaja para Paris, sua idolatrada cidade favorita, junto com a noiva Inez (Rachel McAdams) e os pais dela.

Embora estejam prestes a se unir em matrimônio, Gil e Inez não poderiam estar mais separados: Enquanto Inez quer aproveitar a “Paris moderna” comendo nos melhores restaurantes e fazendo compras nas melhores lojas, Gil é um nostálgico que quer conhecer a “Paris do passado” que ele considera a melhor época da história humana e é desdenhado tanto por Inez quanto por Paul (Michael Sheen), o pedante amigo inglês de Inez. Ao badalar da meia-noite durante um solitário passeio noturno pela cidade, Gil é transportado para sua época favorita: a Paris dos anos 1920. Confuso, mas ao mesmo tempo encantado, Gil resolve aproveitar a boêmia da época indo a festas e acaba conhecendo e fazendo amizade com os intelectuais e artistas que frequentavam a cidade luz nessa época, seus grandes ídolos e inspirações. Um desses ídolos é ninguém menos do que Gertrude Stein (vivida aqui por Kathy Bates), icônica escritora, poeta e feminista, que aceita revisar o livro de Gil e em cuja casa ele acaba conhecendo a doce Adriana (Marion Cotillard) por quem Gil se apaixona e passa a sonhar em viver com ela para sempre nesse passado.

Neste filme, saindo de sua querida Nova York, Woody Allen novamente mostra porque é um dos melhores roteiristas da história do cinema partindo de um conceito bastante em folga na ficção, a viagem no tempo, e construindo uma narrativa encantadora e envolvente com participações especiais de muitos atores que dão vida a grandes nomes das artes (Pablo Picasso, Salvador Dalí, Henri Matisse), literatura (F. Scott Fitzgerald, Zelda Fitzgerald, Ernest Hemingway, T.S Elliot) e do cinema (Luis Buñuel) e a mensagem final de que por maior que seja nosso amor pelo passado, tudo o que temos para  viver é o presente, o aqui e agora, e ele pode ser igualmente belo, o que Gil percebe quando reencontra Gabrielle (Léa Seydoux) na belíssima cena final na ponte do rio Sena (Woody Allen tornando o mundano belo novamente).

3) A Rosa Púrpura do Cairo (The Purple Rose of Cairo, 1985)

Dito pelo próprio Woody Allen como sua obra predileta dentro de sua longa filmografia. Este filme de 1986 é ambientado na Nova Jersey de 1935, em plena Grande Depressão. A história se concentra na personagem Cecilia (Mia Farrow, uma das muitas musas que Allen teve ao longo da carreira) que trabalha (não tão bem) como garçonete para poder sustentar o marido desempregado e bêbado que muitas vezes a trata mal e a trai.

Para fugir de sua sofrida realidade, Cecilia se refugia na escuridão da sala de cinema e assisti repetidas vezes seus filmes favoritos. Mas o impossível acontece quando ao assistir pela quinta vez seguida o filme “A Rosa Púrpura do Cairo” o personagem fictício e herói do filme Tom Baxter (Jeff Daniels) começa a conversar com Cecilia em meio ao filme e sai da tela preto e branco do filme para o colorido mundo real. Tom se apaixonou por Cecilia após vê-la lá sentada e assistindo tantas vezes o filme e resolve quebrar totalmente a quarta parede e abandonar seu filme para ficar com uma confusa e fascinada Cecilia.

O que nem Tom e nem Cecilia imaginaram é que a atitude de Tom criaria uma enorme crise não apenas entre os outros personagens do filme de Tom (o que rende impagáveis diálogos entre os personagens do filme e o público do cinema) como dentro do estúdio que produziu o filme, fazendo com que os produtores enviem Gil Shepherd, o ator que interpreta e dá vida a Tom Baxter no filme (Jeff Daniels, fazendo dois papéis nesse filme), para convencer Tom a voltar para o filme e evitar assim que mais personagens abandonem seus filmes. O que Gil não esperava era conhecer uma pessoa como Cecilia no meio disso tudo e isso acaba fazendo com que Cecilia tenha que encara um dilema de escolher entre a ficção e a realidade.

Em A Rosa Púrpura do Cairo, Woody Allen não faz apenas a sua homenagem à sétima arte e ao fazer fílmico, mas explora (com seu humor usual) as diferenças abissais que separam a realidade da ficção usando, principalmente, o personagem Tom Baxter que é o perfeito herói do cinema: sem maldade, puro e romântico, e isso eventualmente o coloca em inusitadas (e divertidas) saias-justas no mais complicado mundo real. A Rosa Púrpura do Cairo é um primor de filme que apesar de ser alegre na maior parte do tempo, entrega um final de partir qualquer coração e que, infelizmente, faz um total sentido e só ressalta o talento que Allen tem para construir roteiros e narrativas.

É isso aí Geeks, espero que tenham gostado do post e das indicações. E quem já for fã de Woody Allen, não deixem de comentar quais filmes vocês recomendam para aqueles que querem conhecer esse mestre do cinema. Grande Abraço!

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