Resenha | Marvel 2099

O ano é 1992 , no auge de sua popularidade como editora de HQs, a Marvel decide reinventar o seu universo de uma forma um tanto diferente, impulsionada pela moda que havia dominado os livros e o cinema na época: a moda cyberpunk, com histórias de ficção científica que procuravam modelar um mundo onde a tecnologia atingiu o seu apogeu, porém havia um baixo nível de vida entre a sociedade em um mundo sinistro, sombrio, com computadores ligados em rede que dominam todos os aspectos da vida cotidiana. E então a Marvel decide criar a linha Marvel 2099, um selo editorial com HQs que imaginavam o universo da casa das ideias em um desses prováveis futuros distópicos, onde seus heróis seriam reimaginados dentro do mesmo. Assim tínhamos Homem-Aranha, Justiceiro, Hulk, X-Men entre outros.

A ideia de criar essa nova realidade partiu de ninguém mais, ninguém menos que Stan Lee, quando o mesmo trabalhou ao lado de John Bryne em uma graphic novel ambientada no futuro do Universo Marvel, estrelando um vigilante chamado Ravage. Esse inédito herói fez sua primeira aparição em Marvel Comics Presents #117.

E então, a ideia de se criar um universo futurístico não só agradou apenas Stan Lee e John Bryne, mas deixou outros autores entusiasmados e assim iniciou-se um projeto para desenvolver personagens que seriam situados no futuro, muitos deles assumindo títulos de super-heróis do presente. Isso deveria trazer também novos leitores, já que traria a oportunidade de se acompanhar esses novos personagens desde sua origem, algo semelhante com o que aconteceu na década de 60.

A princípio, Ravage foi o primeiro a fazer sua estreia, tendo como objetivo expandir esse universo para outros personagens como o Homem-Aranha e o Justiceiro, e como principal vilão deste universo, foi escolhido o Dr. Destino.

Para evitar problemas com paradoxos temporais, foi determinado que os personagens futurísticos não teriam ligação com os personagens tradicionais de forma a não comprometer as histórias do presente. Assim tivemos personagens sem vínculo nenhum com o legado de seus antepassados, vivendo nos Estados Unidos que era um país com território fragmentado, sendo que cada setor era controlado por uma corporação independente. Deste modo, temos a Alchemax dominando Nova York, principal reduto dos heróis, e boa parte da Costa Leste.

Também temos neste novo universo, um vasto avanço tecnológico, principalmente em engenharia genética. Todos se vestem com armaduras para se proteger dos criminosos, já que a violência neste novo mundo é bem superior ao mundo presente. Como o governo é controlado por corporações corruptas, os cidadãos são explorados de todas as formas possíveis, precisando contratar por cada serviço que necessitarem, desde segurança até saúde. Com isso, a manutenção dos espaços, a ordem pública e a própria lei não existem, porque não são coisas que possam ser contratadas individualmente.

Os Super-Heróis não existem nesta realidade, já que todos eles desapareceram após um grande evento que é citado apenas como O Grande Cataclismo. Todos os heróis que ressurgem nessa realidade são vistos como rebeldes ou anti-heróis, já que fogem das normas e das leis estabelecidas pelas grandes corporações. Portanto, os mesmos “trabalham” de forma independente. Cada um procura somente cuidar de sua própria vida, como o caso do Motoqueiro Fantasma 2099 , um hacker que foi morto pelo pai, um homem do sistema, viciado em trabalho que viu que a sua morte poderia dar lucro à empresa e agiu em conformidade, como um profissional.

Já a versão 2099 do Hulk era um produtor de reality shows que havia ordenado um massacre a uma comunidade, porém se arrependeu de suas ações e o sentimento de culpa fez com que ele se revoltasse contra as corporações, procurando assim destruir o sistema governamental vigente naquele período.

O Homem-Aranha 2099 foi o responsável por inaugurar a linha, já que sua HQ foi a primeira a ter o selo. Peter David e Rick Leonardi foram os responsáveis por reimaginar uma versão futurista do amigão da vizinhança. Miguel O’Hara é um empregado da Alchemax, corporação que domina a cidade de Nova York, bem como toda a Costa Leste. Ele era chefe de um projeto de aprimoramento genético inspirado nas capacidades do Homem-Aranha original na Alchemax, quando o proprietário da corporação, Tyler Stone, o contamina com uma droga alucinógena chamada Êxtase, substância essa que torna a pessoa tão dependente quanto o oxigênio e produzida apenas pela Alchemax.

Revoltado com essa atitude por parte da Alchemax, O’Hara resolve fazer uso do material da corporação e de suas pesquisas para restabelecer sua própria estrutura molecular e assim se livrar da dependência da droga. Tudo teria dado certo, se seu superior Aaron não interferisse, misturando a programação de O’Hara com os códigos do Projeto Aranha. Desta forma, nascia o Homem-Aranha 2099, mas com poderes e visual diferentes de Peter Parker, com glândulas nos punhos, e teias naturais, além de peçonhas nos seus dentes caninos e garras retráteis em seus dedos, além de uma visão mais sensível comparada a de um humano comum. Ainda assim, ele também tinha como Peter Parker, força e agilidade iguais à de uma aranha.

E assim foi com todos os heróis deste universo, cada um tinha uma tragédia que os faziam se voltar contra o controle das corporações. E por quatro anos as histórias atraíram fãs para esse novo universo, porém a linha 2099 foi uma das que mais sofreu com a crise financeira que a Marvel passou na segunda metade da década, com todas as histórias do selo sendo interrompidas no final de 1996. Ainda assim a Marvel chegou a publicar algumas histórias nos anos seguintes referentes ao selo, até que procurou dar uma história em que todas as pontas soltas fossem amarradas, publicando em 1998, Manifesto Destino.

E desde então com a chegada do novo século, a linha havia passado por sucessivos limbos que inicialmente foram interrompidos com a chegada de uma versão 2099 para a linha Marvel Knights: Marvel Knights 2099, procurava criar novas origens para outros demais super-heróis conhecidos como o Pantera Negra (descendente de T’Challa e da Tempestade) e o Demolidor (que não era descendente de Matt Murdock, mas sim, de Wilson Fisk). Em 2006, durante o arco Turnê Mundial dos Exilados, uma equipe mutante que procura corrigir anomalias temporais, os mesmos visitam o universo 2099. Em 2009, tivemos a minissérie Tempestade Temporal que foi um crossover que procurava reunir os heróis do universo tradicional e do universo 2099.

Depois de sucessivas visitas, a Marvel então procurou trazer Miguel O’Hara de volta com a HQ Homem-Aranha 2099 na fase All-New All-Different Marvel em 2013, com o personagem preso no universo tradicional, não conseguindo mais retornar a sua realidade e procurando resolver problemas que culminaram na formação de sua própria realidade e assim procurar melhorá-la. Mais em 2015, durante a linha Mundos de Batalha do evento Guerras Secretas, vemos uma realidade do universo 2099 como um dos mundos de batalha do Doutor Destino, onde fomos apresentados a uma versão 2099 dos Vingadores. Que traz  nostalgia ao rever este universo , que foi deixado um pouco de lado pela Marvel.

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