Crítica | A Chegada ( Com spoilers-2016)

Baseado no livro The Story of Your Life, de Ted Chiang ‘’A chegada’ parte da premissa da terra sendo invadida repentinamente por naves extraterrestres que pairam sobre 12 lugares diferentes do nosso planeta. Sem revelar qualquer tipo de intenção seja ela, hostilidade, paz ,  as naves apenas ficam estáticas pairando. Com a pressão popular, o governo precisa agir, mesmo que não tenha informações suficientes. A linguística Louise Banks( Amy Adams) é designada pelo coronel Weber (Forest Whitaker), para trabalhar com o matemático ( Jeremy Renner) para tentar comunicar-se com os seres das naves e tentar descobrir quais as intenções dos visitantes.

Apesar de ser uma adaptação, muito do conteúdo do filme é inédito, resgatando apenas alguns conceitos e conflitos da historia de Ted Chiang. Existe um cuidado todo especial na trilha sonora, que nos mostra as’’ badaladas’’,entre pausas de sons mais altos, tão estranha e misteriosa como a do filme” Under The Skin”. Que esta prestes a nos revelar algo novo, um prenuncio de algo ‘’maior’’ que nós. A cena desta abertura é  grandiosa , a nave espacial paira sobre um campo aberto, enquanto as nuvens descem como ondas. A trilha excepcional foi composta por Johann Jóhannsson.

Há sempre duas vertentes abordadas em filmes de extraterrestre, invasão para conquistar, já tradicional e a linha mais otimista voltada para família. Como em E.T, e em Contatos imediatos de terceiro grau. A Chegada não é nenhum dos dois, é uma historia que orbita entre os dois tipos pessimistas e o otimismo, e que ao mesmo tempo trabalha a elevação de ‘’espirito’’, orbitando também um pouco do ‘’horror’’ perante o desconhecido, algo bem característico em obras de Lovecraft.

A fotografia de Bradford Young, é o elemento que mais chama atenção fora a trilha sonora. Usado tanto em ambientes fechados, quase claustrofóbico, quanto de ambientes abertos ensolarados em poucos momentos, ou na manipulação de filtros no qual são mostradas nas memorias da personagem.

O roteiro de Heisserer depende muito da competência de Villeneuve para funcionar de modo eficiente. Há sequencias no qual só dependem da competência de Villeneuve, para transforma-las em um espetáculo audiovisual. Dentre estas a de maior destaque, a inicial no qual temos o primeiro contato com a nave espacial, á toda uma ‘’preparação’’, sensações que os personagens vivenciam, que são trabalhadas por quase 10 minutos ‘’silenciosos’’ em diálogos, enquanto a trilha sonora evoca o que está por vir.

Existe uma certa influencia de Stanley Kubrick na direção de Villeneuve , que vão desde os planos por trás da Louise ambientada em sua casa e quando entra na tenda de estudos, todos perfeitamente simétricos. Os alienígenas chegam na terra, apenas para mostrar aos humanos que vivemos em uma ilusão no qual o tempo não continuo para a frente, e sim não linear! Os alienígenas apenas são um background do grande palco  que visa explorar a fragilidade humana. No qual somos apresentados , ao vermos no inicio do filme a perda de Lousie, no qual acompanhamos sob sua narração os primeiros momentos de sua filha Hannah até os seus momentos finais.

Toda a apresentação dos alienígenas chamados de Heptapods, é espetacular, que vai desde as suas linguagens, aos sons de suas ‘’falas’’ que lembram em parte, baleias . E é claro a aparência ‘’ cthulhurianas’’ deles, que também tem um certo fundamento cientifico no qual alienígenas inteligentes poderiam ser semelhantes a polvos. Há toda uma ‘’atmosfera’’, coberta de nevoas e iluminação forte quase ecoando o divino nestes seres.

Algo deixado de fora no filme e que não é explorado, é que os Heptapods possuem 7 olhos no conto, no qual permitem uma visão 360º a eles, que impede até de certa forma, o conceito de ‘’para frente’’ e ‘’para trás’’. No filme não fica claro até se eles possuem 7 olhos, as nevoas dificultam um olhar mais profundo nos seres.

Quando aprendemos que a barreira linguística que Lousie ”compreende” a leva a compreender o tempo como os Heptapods os compreendem, uma nova janela se abre em nossas mentes. Algo que nos pega com surpresa é justamente a subversão do que pensávamos, o que parecia ser flashbacks apresentados desde o começo do filme , na verdade são flashforwards. Que é apresentado no terceiro ato, que é provocado o choque ao entendermos que Louise, na verdade prevê o futuro.

O Ian interpretado por Jeremy Renner, apesar de ser menos explorado que no conto original, principalmente no que diz respeito ao lado mais cientifico da coisa. É o futuro marido de Louise que não suporta o conhecimento de que sua filha morrerá, no entanto ele não tem muito o que fazer na trama, e fica como uma espécie de ‘’assistente’’ , que está ali pela conveniência. Amy Adams brilha , sendo a melhor performance que entregou até agora, podemos sentir a angústia de Lousie , seja no passado/futuro ou no presente.

”A Chegada” estabelece um contexto diferente no qual , talvez os alienígenas Heptapods e Louise ‘’ajam’’ para criar o futuro, sem que eles sejam determinados por ele. É como se o futuro não existisse , ( ou qualquer outro tempo talvez). O conceito de livre arbítrio deixam de fazer sentido. Ela irá escolher a filha que irá morrer? ou estaria tudo ‘encaminhado’’ para que ela escolha este caminho?

Apesar de transmitir uma mensagem ‘’simplista’’ porém explorada de maneira complexa , ”A Chegada ”definitivamente é um diferencial para o gênero de ficção cientifica, podendo ser considerado de tal foma, original. Uma bela obra cinematográfica.

A Chegada ( Arrival-EUA-2016) 116 min.

Direção: Denis Villeneuve

Roteiro: Adaptado do conto de Ted Chiang , por Eric Heisserer

Elenco: Amy Adams, Jeremy Renner, Michael  Stuhlbarg, Forest  Whitaker, Tzi Ma, Jadyn , Malone, Mark O’brien, Abgail Pniowsky

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