Análise | Mulher Maravilha (2017)

Mulher Maravilha é uma heroína com credenciais de sobra. Seu criador, o psicólogo e escritor americano William Moulton Marston (1893 – 1947), foi uma figura de proporções grandiosas ele próprio. Formado em Harvard, Marston ficou conhecido também como apoiador do feminismo e um defensor do poliamor e do bondage. Nesta época a mulher buscava um papel mais relevante na sociedade: sufragistas defendiam seus direitos já nas primeiras décadas do século XX, em 1912 Jane Addams tornou-se a primeira mulher a ganhar o prêmio Nobel da Paz, e na década de 30 Amelia Earhart abriu os horizontes com seus feitos. O mundo clamava por um símbolo capaz de guiar gerações de mulheres, e mostrar aos homens do que elas são capazes.

As mulheres finalmente estão se sentindo representadas em tela como queriam ver há muito tempo. Nos mostrando que uma heroína pode ser feminina, graciosa, porém guerreira, feroz em batalha quando preciso. Mulher Maravilha o filme, é única de diversas maneiras. É muito inspirador, esperançoso, mesmo em meio ao terror da Primeira Guerra Mundial.

O enredo conta a história de Diana que nasceu e cresceu na ilha escondida de Themyscira, lar da raça Amazona de mulheres guerreiras criadas pelos deuses do Monte Olimpo para proteger a humanidade contra a corrupção de Ares, o deus da guerra. No passado distante, Ares matou todos os olímpicos, mas seu pai mortalmente ferido, Zeus, o derrotou. Antes de sucumbir aos seus ferimentos, Zeus deixou as amazonas uma arma capaz de matar seu filho renegado: a “Matadora de Deuses”, que Diana acredita ser uma espada cerimonial. A partir daí anos se passam e Diana se torna uma bela e destemida guerreira, sem noção nenhuma de seu verdadeiro potencial. Em meio a um treinamento, no qual é interrompido por um descontrole de seus poderes, Diana encontra-se com Steve Trevor que cai com seu avião na ilha, ela o salva, e  a partir daí os dois começam a aventura deles em meio ao mundo dos homens.

O filme deixa claro o quanto a Mulher-Maravilha é inteligentíssima, destruindo uma série de preconceitos. Ela é como uma verdadeira heroína badass deve ser, sem medo de desagradar. Os pequenos diálogos bem humorados e feministas debateram de maneira descontraída e direta tópicos como sexo, masturbação feminina (tabu ainda em pleno século 21), indicado pela própria Diana de forma sutil, casamento e suas imposições sociais, a posição da mulher no mercado de trabalho, o tabu da fragilidade física feminina e tantos outros, com uma abordagem rápida, sem atrapalhar o desenvolvimento da trama.

E é importante ressaltar que a produção não reforça a imagem hipersexualizada da heroína. Isso fica claro quando não há câmeras demoradas e maliciosas mostrando detalhes do corpo da atriz, como acontece em Batman vs Superman: A Origem da Justiça, dirigido por Zack Snyder. Ou mesmo em Liga da Justiça, que já podemos notar no trailer do filme, esta é a diferença de uma direção de uma mulher na produção, a diretora  Patty Jenkis.  A heroína é vista e retratada por uma outra perspectiva, que provavelmente apenas seu gênero poderia entender e passar para o público. Uma cena que será lembrada é a da terra de ninguém, Diana liberta de suas inseguranças e abre caminho para os soldados ingleses contra os alemães, em uma cena linda no qual o slow motion foi bem utilizado.

Mulher-Maravilha transmite na tela o que a DC Comics glorifica ‘’Deuses entre nós’’, uma personagem poderosa que segue os seus ideais e o coloca a prova para salvar tudo e todos, a angustia de falhar e a alegria de fazer o bem é transmitida em olhares e sorrisos fortes de uma Gal Gadot que estava totalmente à vontade, se tornando a Mulher Maravilha definitiva. O terceiro ato apesar de ser exagerado na utilização de CGI, e algumas confusões de cortes e transição, mostra o verdadeiro potencial dos poderes de Diana e o quão longe poderemos vê-la chegar.

Mulher é mesmo interessante…
Mesmo brava, é linda
Mesmo alegre, chora
Mesmo tímida, comemora
Mesmo apaixonada, ignora
Mesmo frágil, é poderosa!

Angela Cavalvanti

A Mulher Maravilha  é a própria  representante de um momento em que uma nova geração de leitoras e fãs de cultura pop não precisa da licença de ninguém para ocupar seu espaço. Ela veio pra mudar um cenário que há muito assombrava Hollywood, de que heroínas femininas não vendem o suficiente e que o publico não se interessaria por elas (ERRADO!). O que precisávamos, era de uma heroína muito bem trabalhada em tela, e que fosse retratada pela visão de uma mulher principalmente.  Uma nova era para as mulheres e garotas nerds se iniciou, com toda certeza.

Mulher-Maravilha-2017 (Wonder Woman-EUA)

Direção: Patty Jenkins

Roteiro: Allan Heinberg (baseado em argumento de Zack Snyder, Allan Heinberg e Jason Fuchs)

Elenco: Gal Gadot, Chris Pine, Connie Nielsen, Robin Wright, Danny Huston, David Thewlis, Said Taghmaoui, Ewen Bremner, Eugene Brave Rock, Lucy Davis, Elena Anaya, Lilly Aspell, Lisa Loven Kongsli, Emily Carey

Duração: 141 min.

Autora: Odimara

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