Crítica | American Horror Story: Roanoke (2016)

Atenção: O texto a seguir tem prováveis spoilers sobra a temporada.

A trajetória de “American Horror Story” é algo interessante de se analisar, sem dúvida. A primeira temporada, Murder House, atraiu a atenção de muitos para ver o quão longe à série podia explorar no seu formato antológico. A segunda, Asylum, atraiu ainda mais fãs misturando vários elementos do terror sendo uma decisão quase unânime que ela era a superior a sua predecessora. A terceira temporada, Coven, mesmo com uma pequena queda de qualidade, ainda reforçava o bom status que a série tinha adicionando mais nomes de peso ao elenco. Na quarta temporada, Freak Show, os espectadores sentiram que todo o elemento do terror foi deixado de lado. Na quinta temporada, Hotel, o terror voltou, mas foi transformado em algo muito mais sexual. Muitas pessoas começaram a deixar de assistir a série mesmo com que os índices de audiência continuassem altos. A sexta temporada foi vista como a temporada que ia trazer o terror de volta a série com uma boa história. Ao contrário das outras, o tema dessa temporada foi mantido em segredo pela campanha de marketing só sendo revelado na estreia. Muitos ficaram curiosos sobre qual seria e no primeiro episódio foi revelado que falaria sobre o mistério da colônia de Roanoke na Carolina do Norte. A estrutura dessa temporada foi a mais diferente já vista em “American Horror Story” podendo ser divida basicamente em três partes: My Roanoke Nightmare (Episódios 1-5); Return To Roanoke: Three Days In Hell (Episódios 6-9) e a Season Finale (Episódio 10).

                                                   My Roanoke Nightmare

A primeira metade da temporada da história é um documentário sobre a estadia do casal Matt e Shelby numa casa no condado de Roanoke. Eles eram o casal perfeito. Quase nunca brigavam, estavam sempre com um sorriso no rosto e já estavam esperando um filho. Tudo muda quando Matt é agredido mortalmente na rua e vai para o hospital num estado sério. Enquanto descasava na cama do hospital, Matt levanta milagrosamente, porém Shelby sofre um aborto. Toda a alegria do casal desaparece e eles decidem se mudar para o interior conseguindo a casa em Roanoke com muito esforço disputando contra uma família caipira ali presente.  A irmã de Matt, Lee, também se junta ao irmão por causa de problemas em casa. Assim que se estabelecem na casa, várias coisas estranhas começam a ocorrer com a mais peculiar sendo uma chuva de dentes. De dentes. Você não leu errado.

Os dois primeiros episódios são muito mais introdutórios sem um ritmo muito ágil que prenda o espectador para o que está por vir, mas são ótimos episódios com uma boa construção de atmosfera. A partir do terceiro episódio a situação se inverte, onde a temporada tem um ritmo muito mais ágil fazendo prendendo atuação de quem está assistindo. Todo o mistério sobre Roanoke é revelado aos poucos com todas as peças sendo encaixadas exatamente no momento certo, só basta o espectador ter paciência.

Assim como foi esperado pelos fãs, o terror voltou à nova temporada. Ao longo dessa metade da temporada temos uma construção de uma atmosfera aterradora que mistura várias lendas e histórias. As enfermeiras assassinas, os filhos dos caipiras, a bruxa criadora da maldição da colônia, a garotinha Priscilla, o Pigman e até os próprios colonos que são liderados pela assustadora Açougueira. Essa temporada não teve abertura, mas cada arco teve algo que o representasse:

A atuação aqui continua como um ponto forte com destaque para Lily Rabe, André Holland, Adrina Potter e Angela Basset que conseguem expressar mais camadas de dramaticidade para Shelby e Matt com destaque para as suas expressões faciais dos três primeiros. Agora o destaque absoluto vai para Kathy Bates como a Açougueira. Desde o seu sotaque até a sua pura crueldade e os seus discursos aterradores, Bates se firma como a melhor escalação da temporada e sua personagem é completamente assustadora. Sarah Paulson Cuba Gooding Jr. também estão ótimos. O episódio final desse arco é completamente dinâmico com um final satisfatório.

                                           Return to Roanoke: Three Days in Hell

E aqui somos apresentados ao maior plot-twist da temporada, onde toda a estrutura narrativa é alterada. O documentário “My Roanoke Nightmare” foi um sucesso absoluto de audiência atraindo milhões de fãs para a história de Matt e Shelby. O produtor Sidney, visando lucrar ainda mais, oferece uma ideia de fazer uma segunda temporada do programa, onde os atores do documentário assim como Matt, Shelby e Lee voltassem à colônia e gravassem a sua experiência. Após muita polêmica, todos aceitam pelos próprios motivos e voltam à colônia de Roanoke. Péssima ideia já que desde o início, vários acidentes inexplicáveis acontecem.

O acerto do roteiro nessa parte da temporada é dar motivos justificáveis a todos os personagens. Os atores do documentário, não tinham com o que se preocupar já que não acreditavam em nada da história de Matt e Shelby e iriam ganhar mais dinheiro. Lee queria provar a sua inocência pelos crimes ocorridos anteriormente, Shelby queria se reconciliar com Matt e o motivo dele voltar é algo que não irei revelar para prevenir spoilers.

Se antes o ritmo começava lento e depois avançava, aqui não. Aqui já começa rápido e fica cada vez mais ágil e dinâmico. Muito disso por causa de que desde o primeiro episódio desse arco ficamos sabendo que apenas um sobreviverá.  As mortes que acontecem aqui são brutais, mas sem um exagero de violência, exceto no episódio 8 que abusa demais do torture porn. Várias perguntas do arco anterior são respondidas na hora certa o que é outro acerto. E o clímax do arco é sensacional elevando a tensão do espectador ao máximo com atitudes imprevisíveis dos personagens. Como já disse antes, o arco teve também algo que o definisse:

Sarah Paulson está bem melhor aqui do que no arco passado com um sotaque britânico hilário sempre roubando todas as cenas. Porém não é a única. Kathy Bates está ainda melhor alterando facilmente as suas facetas provando ser uma atriz excepcional. Adina Potter e Lily Rabe estão ótimas faltando palavras para descrever o quão incrível elas estão. O elenco masculino também está muito bem com Cuba Gooding Jr. Mostrando mais facetas de seu personagem.

                                                              Season Finale

A season finale foi, provavelmente, uma das coisas mais contraditórias de toda a série. Muitos a viram como um episódio desnecessário, outros como uma satisfatória conclusão enquanto outros o condenam. “American Horror Story: Roanoke” poderia ter muito bem acabado no episódio nove, porém iria deixar muitas questões em jogo e Ryan Murphy, com medo, decidiu fazer um episódio que desse fim a história. O problema do último capítulo é como ele difere do que já havia apresentado deixando até o terror de lado um pouco, mas ele não é um episódio ruim. Ele é ótimo tecnicamente e as atuações também estão no ponto, Paulson reprisa aqui o seu papel da segunda temporada. Seus minutos finais são a perfeita culminação de toda a temporada mostrando a verdadeira sobrevivente de Roanoke, ou não já que a cena final diz que aquele pesadelo está bem longe de acabar.

                                                              Veredito

Depois de duas temporadas bastante irregulares, “American Horror Story: Roanoke” foi o que a série precisava. O terror voltou de um jeito cru e com força total. Com uma história sem enrolações e dinâmica que expande toda a mitologia da série. Roanoke era a injeção de vida que a série precisava!

Título Original: “American Horror Story: Roanoke” (2016)

Direção: Bradley Buecker, Michael Goi, Jennifer Lynch, Marita Gabriak, Nelson Cragg, Angela Basset, Elodie Keene, Gwyneth Horder-Parton, Alexis O. Korycinsky

Roteiro: Ryan Murphy, Brad Falchuk, Tim Minear, Akela Cooper, Ned Martel, Crystal Liu, Todd Kubrak,

Elenco: Adina Potter, Sarah Paulson, Kathy Bates, Cuba Gooding Jr., André  Holland, Angela Basset, Lily Rabe, Evan Peters, Lady Gaga, David O`Here, Taissa Farmiga, Frances Conroy

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