Crítica | Ao Cair da Noite

Ao Cair da Noite não é o filme mais assustador do ano. Ele nem se propõe a isso. Para mim, não chega nem a ser um terror, mas um suspense psicológico envolto em uma atmosfera completamente sombria, lembrando algumas obras do próprio Stephen King. É um dos filmes mais intimistas dos últimos anos, graças ao seu roteiro que deixa muita coisa subentendida, para o espectador preencher essas lacunas com sua imaginação.

Na história Paul (Joel Edgerton) vive isolado em uma cabana na floresta juntamente com sua esposa Sarah (Carmem Ejogo) e seu filho Travis (Kelvin Harrison Jr.). A trama se passa em um mundo pós-apocalíptico, onde há um vírus desconhecido infectando e transformando as pessoas em seres que se assemelham a zumbis. Desde o início, fica bastante claro que o objetivo de Paul e sua família é sobreviver a qualquer custo. Até o dia em que Will (Christopher Abbott) – mais um sobrevivente – invade a cabana atrás de comida e um teto seguro para sua família. A partir daí as duas famílias terão de conviver juntas, confiando uns nos outros sem saber o que vem “ao cair da noite”.

O filme inteiro é construído em cima de uma atmosfera sombria ressaltada por filtro escuro, que é justamente para causar uma desorientação psicológica que acentua ainda mais o medo e a imprecisão daquele ambiente, nos deixando sempre tensos com a situação. Não há exposição desnecessária e pouquíssima informação para o público. Por meio de uma direção paciente, com planos longos que passeiam pelos corredores escuros da casa, há uma constante sensação de que algo muito ruim está prestes a acontecer. Temas são abordados de maneira apenas tangencial temas como o futuro da civilização, os riscos das doenças, o valor da família, assédio sexual, histeria coletiva.

Travis, o personagem mais lucido da história, tem uma série de sonhos perturbadores que, em alguns momentos, se confundem com a realidade, nos deixando sem saber o que é real e o que é imaginação. Os atores especialmente Joel Edgerton, estão muito bem em seus papéis. Seus personagens foram construídos com esmero, de um jeito que seus respectivos dramas soam críveis.

A câmera do diretor e roteirista Trey Edward Shults pulsa o tempo inteiro. Movimentos circulares, mas usados de maneiras e com objetivos diferentes. Planos médios, closes e alguns mais abertos, refletem precisamente como puxar de cada cena o melhor. Aqui temos algum clichê do gênero, mas usado com extrema competência.Este não é um filme que dá respostas. Consequentemente, pouco provável que agrade a quem precisa delas. Não só na reta final, mas durante todo o seu desenrolar. As cenas do filme são lentas, mas não são arrastadas pois existe um questionamento real sobre onde resultarão.

Contudo, o que o filme desenvolve, mesmo em meio ao suspense e aos sustos, torna o incômodo numa experiência desejável. A inquietação que é gerada pela técnica do jovem diretor nos respalda em uma câmera que capta planos que sempre tem algo a dizer, a própria maneira com a qual algo nos é mostrado conta, por si, uma parte da história. Conforme as peças são unidas, só resta se deixar ser hipnotizado pelas paranoias que aos poucos consomem aqueles com quem nos encontramos, inevitavelmente, tão preocupados.

Ao Cair da Noite provavelmente não vai te matar de medo, mas dá um adeus á aqueles filmes de terror farofa que estamos acostumados. Na verdade, a proposta do filme nem é ser tipico filme de terror, por isso para quem busca algo diferente seu lugar é aqui. O filme tenta te provar que dependendo da situação, o próprio ser humano se torna o monstro.

Ao Cair da Noite (It Comes at Night) — EUA, 2017     Duração: 91 min.

Direção: Trey Edward Shults

Roteiro: Trey Edward Shults

Elenco: Joel Edgerton, Christopher Abbott, Carmen Ejogo, Riley Keough,  Kelvin Harrison Jr., Griffin Robert Faulkner, David Pendleton

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