Crítica | Dunkirk

Dunkirk é o ápice do amadurecimento de Nolan como cineasta, é baseado em um livro que leva o mesmo nome. No qual  conta a história de um episódio da segunda guerra geralmente lembrado apenas por historiadores especializados: a evacuação da cidade de Dunquerque. Nela, 300 mil soldados estão encurralados pelo exército alemão e fazem de tudo para sobreviver e voltar para casa.

A sequência inicial do longa mostra como será a experiência do espectador do início ao fim do longa: tão tensa como a dos soldados aliados. Nolan constrói uma imersão que pouco se vê no cinema contemporâneo, usando jogo de cena e a sonoplastia a seu favor.

A história é dividida em três partes: na terra, no mar e no ar. Em terra firme, somos apresentados aos soldados que vivem o terror para regressar à casa. É nesse momento do filme que somos apresentados ao personagem Alex (Harry Styles) e Gibson (Aneurin Banard). No mar, acompanhamos a trajetória do Senhor Dawson (Mark Rylance), que lidera seu pequeno barco em busca dos soldados enclausurados em Dunkirk. No ar, Ferrier (Tom Hardy) acompanha mais dois pilotos para batalhar no Canal da Mancha.

O diretor/roteirista também parece ter escutado, finalmente, uma das maiores reclamações de seus admiradores, o problema das exposições exageradas jogadas em diálogos. É um filme enxuto, com poucas falas. A ambientação visual, as batalhas, e as feições dos soldados e civis dizem muito mais do que qualquer frases ou diálogo elaborado.Um plano em particular é formidável. Através da perspectiva do personagem Tommy, vemos os caças nazistas se prepararem para lançar bombas nas praias. Com o personagem já acuado no chão, tentando se proteger, vemos em profundidade de campo uma sucessão de explosões que matam violentamente alguns soldados.

Normalmente vemos os filmes de guerra com personagens fortes, heroicos e com uma profundidade dramática muito grande, em vista daquele terror inacreditável que estão vivendo. Em Dunkirk, isso é completamente diferente, pois não apenas os personagens são totalmente anônimos, mas também mostra uma face da peleja muito cruel , o desespero.

Christopher Nolan mais uma vez se reinventa, experimentando e ousando cruzar seus próprios limites definidos em outrora é poético, belo e inspirador. Um cineasta do porte dele não precisa se arriscar tanto desse jeito como ocorre aqui. Este longa metragem faz com o público é lembrar a cada cena que somos humanos. Não precisamos de mais nada além de compaixão pelo próximo, torcendo para que aquela pessoa que estamos acompanhando tenha mais uma chance de sobreviver.

Outro elemento ainda ligado ao som, na minha visão, foi o que fez desse filme ser especial: os efeitos sonoros. Quando assistimos a um filme desse estilo, os efeitos sonoros trazem uma imersão bem importante para o espectador, mas o que Nolan fez com Dunkirk, superou tudo o que já vi nesse quesito. Assim como em Interestelar, Nolan utiliza muito bem o som , ou a ausência dele, para fazer o espectador mergulhar na história.

Dunkirk te coloca dentro daquele ambiente hostil, te faz sentir medo, desespero, angústia, ao passo que te leva a não descansar em momento algum, sempre acompanhando o frenesi das batalhas. Um dos melhores filmes de guerra, é uma experiência sensorial que lhe colocará numa fração do que foi a 2ª Guerra Mundial.

Dunkirk — Reino Unido/ Países Baixos/ França/ EUA, 2017

Direção: Christopher Nolan

Roteiro: Christopher Nolan

Elenco: Fionn Whitehead, Damien Bonnard, Aneurin Barnard, Lee Armstrong, Barry Keoghan, Mark Rylance, Tom Hardy, Jack Lowden, James D’Arcy, Cillian Murphy,  Harry Styles, Kenneth Branagh

Duração: 106 min.

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