Análise | Ben 10: A Queda (Parte 3)

Chegamos enfim à última parte da nossa série de análises, o momento tão esperado de analisar o ponto em que a franquia Ben 10 atingiu sua fase de pior declínio criativo. Comecemos então com “Ben 10: Omniverse”, exibida entre 2012 e 2014, possuindo um total de 80 episódios (a série de Ben 10 mais longeva até o momento), divididos entre 8 temporadas.

Nesta nova série, em seguida aos eventos de Supremacia Alienígena, Gwen decide começar a fazer faculdade, e Kevin a acompanha nesta nova empreitada. Ben fica então sozinho para enfrentar as novas ameaças que vão surgindo, mas não por muito tempo: Rook Blonko, um habilidoso aspirante a Encanador, é designado para fazer seu treinamento prático ao lado de Ben. Os dois formam uma parceria inusitada para investigar o que acontece na Cidade de Baixo, um tipo de favela alienígena existente no subterrâneo da cidade natal de Ben. Nosso herói também ganha um novo Omnitrix – sem maiores explicações – que permite a ele acessar todos os aliens das séries anteriores e, inclusive, alguns novos.

Em sua primeira temporada, a história se passa no presente, com o Ben adolescente, mas insere diversos flashbacks com o Ben criança, da série original, ainda descobrindo os segredos do Omnitrix e extremamente empolgado com seu novo herói, Feedback, uma bateria viva que consegue absorver e redirecionar energia, enquanto precisa enfrentar Malware, um robô alienígena fora de controle. Eu gostava bastante quando mostravam esse contraste entre os dois Bens, dava até uma nostalgia da série de 2005. Uma pena que, nas temporadas subsequentes, eles praticamente abandonaram esse recurso narrativo.

A primeira coisa que salta aos olhos quando se assiste Omniverse é a mudança no traço, que deixou de lado a estética “pseudo-anime” e se tornou bem mais simples e caricato. A direção de arte ficou a cargo de Derrick J. Wyatt, conhecido por seus trabalhos em “Jovens Titãs”, “Transformers: Animated” e “Scooby-Doo: Mistério S.A.”. Pessoalmente, eu curto seu estilo de desenho, o qual funciona muito bem para animações, mas é inegável que causa estranhamento por destoar bastante do padrão estabelecido na franquia. Todos os personagens foram redesenhados, e alguns ficaram muito similares às encarnações anteriores, enquanto outros sofreram uma repaginada total. Ben, por exemplo, ganha um aspecto bem mais jovem, apesar de estar mais velho na série.

Feedback. Após o término da série, passou a trabalhar na Eletropaulo.

Os enredos, a seu turno, abandonaram de vez a sobriedade que se fazia presente em Força Alienígena e Supremacia Alienígena e adotaram um tom cômico e aventuresco,  tentando emular o clima da série original, de 2005. No entanto, os roteiros não foram tão inspirados quanto antigamente, inclusive reciclando muitos elementos e conceitos já utilizados. Nem mesmo os novos heróis alienígenas introduzidos na série chamam tanto a atenção quanto os clássicos – com exceção do Feedback, que é mesmo muito maneiro.

Durante seus primeiros episódios, a história se mostra mais focada, com os episódios aos poucos convergindo para delinear uma ameaça maior, que culmina em uma grande batalha final. No entanto, depois desse evento, a série começa a se perder. Os episódios passam a formar mini-arcos, nenhum deles lá muito interessante, e com diversos “fillers” no meio, que só servem para criar volume mesmo. Praticamente todos os personagens das séries anteriores acabam fazendo uma aparição, até os mais obscuros, mas sem muito destaque – mais como uma piscadinha para os fãs. Ou seja, o desenho começa “divertido” e decai para “meh”, e dessa zona cinzenta não consegue sair. Não chega a ser completamente ruim, mas também não recupera a qualidade do início.

Malware. Após o término da série, virou um Cavalo de Troia.

Quando Omniverse se encerrou, a franquia Ben 10 entrou em hiato, mantendo-se no Cartoon através de sucessivas reprises em sua programação. No entanto, em 2016, para o desespero dos fãs, foi anunciado que a série ganharia um reboot no mesmo ano, com o objetivo de reapresentar o personagem para um novo público. E então, em outubro de 2016, “Ben 10” estreia no Cartoon Network americano, chegando por aqui em 2017 e estando atualmente em exibição. Oh, puxa… por onde eu começo?

A história é essencialmente a mesma de antes (garoto encontra dispositivo alienígena que o transforma em dez alienígenas diferentes e decide combater o mal) mas a forma como é contada acaba sendo totalmente diferente. Em vez de algo aventuresco, ou mais sombrio, os produtores decidiram optar por uma série infantil de comédia com a mesma temática, fugindo totalmente das propostas anteriores.

Quero dizer, a série original também tinha seus momentos cômicos, mas a ação e a aventura sempre ficavam em primeiro plano. O humor servia para enriquecer a trama, mas não chegava a se sobressair. Até mesmo Omniverse, que tinha uma pegada mais escrachada, tentava se levar a sério em alguns momentos. Aqui, o humor (ou a falta dele) é a palavra de ordem.

Assistindo aos episódios, fica claro que o reboot foi produzido com um público-alvo bem específico em mente: crianças pequenas. As cores saturadas, o design simples e arredondado, a duração dos episódios (cerca de dez minutos), as piadas bobinhas, as frases feitas… tudo é muito infantil e sem tempero. Não há desenvolvimento de personagem, nem construção de um arco maior, nem cenas de ação impactantes, enfim, nada que possa chamar a atenção do pessoal mais velho. Pelo menos, não verifiquei tanto apelo ao nonsense ou a memes da Internet, como fazem os demais reboots – ainda que seja sofrível ver Ben gravando um videolog durante uma batalha…

“Eu sou o novo Ben 10, DEAL WITH IT!!”

E o pior é que a série não se decide entre ser um reboot e uma continuação da série original de 2005. Todos os personagens foram redesenhados, mas ainda lembram um pouco suas versões clássicas (nem todos – o Insectoide, por exemplo, está irreconhecível). Personagens antigos retornam, mas não são reapresentados, presumindo que a audiência já os conhece das séries anteriores. Não há sequer uma explicação de como, quando e por que Ben consegue o Omnitrix. Se você vai recontar uma história para alguém que não teve contato com a série antes, o ideal seria começar do básico, não é???

Mas, para ser justo, devo ressaltar alguns pontos positivos: a técnica de animação, em si, não é das piores. O design dos personagens aparenta ser o mesmo usado no reboot das Meninas Superpoderosas, mas um pouco mais trabalhado, com sombreamento e alguns planos dinâmicos. A dublagem nacional também é bem feita, inclusive por contar com quase todas as vozes originais – menos a do próprio Ben, o que é, de certo modo, compreensível, pois Charles Emmanuel já não consegue fazer mais aquela voz de criança sem soar forçado. O novo dublador, Matheus Calliano, é competente e tem futuro no ramo.

Em suma, Ben 10: Omniverse foi um retrocesso em relação às séries anteriores, mas ainda tentava ser uma série de ação, e tinha lá seus momentos bacanas. No entanto, a inserção de mais momentos cômicos, as tramas pouco criativas e a mudança no traço foram motivos que afastaram muitas pessoas. O reboot, por sua vez, não entrou sem razão na lista de tópicos mais polêmicos da Internet. Vi pouquíssimas pessoas defendendo essa nova versão. A total mudança de tom da série, para uma animação infantilizada e pouco original, definitivamente foi uma péssima decisão da Cartoon, e uma grande ofensa para tudo que já foi construído pela franquia. Só nos resta esperar que, futuramente, Ben 10 receba uma nova série que faça jus ao seu legado, ou pelo menos, que o deixem descansar em paz. Fiquem agora com o primeiro episódio do reboot, caso estejam a fim de estragar o seu dia:

E vocês? O que acharam da análise? Quais as suas impressões sobre essas séries? Compartilhe com a gente suas opiniões no espaço abaixo e, se tiver alguma sugestão para um futuro post aqui no site, comente também. Obrigado pela atenção!!

 

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