Análise | Ultimate Homem-Aranha (2012)

Ultimate Homem-Aranha (Ultimate Spider-Man) é uma série animada produzida em uma parceria entre Marvel, Disney e os estúdios Man of Action (os mesmos criadores de Ben 10 e Mutante Rex) e Film Roman, sendo exibida no Disney XD entre 2012 e 2017, contando com um total de 104 episódios divididos em quatro temporadas. A animação é livremente baseada nas histórias do selo Ultimate (Marvel Millenium, aqui no Brasil), escritas por Brian Michael Bendis, que é também produtor e supervisor de roteiros da série.

Na história, Peter Parker tem agido como super-herói há um ano, mas ainda comete diversos erros e possui dificuldade em prender até mesmo vilões de quinta categoria, como o Ardiloso. Vendo o potencial latente nele, Nick Fury decide convidá-lo a participar do programa de treinamento da SHIELD, onde eles pretendem aperfeiçoar suas habilidades e transformá-lo no “Ultimate Homem-Aranha”. Peter acaba recusando de início, mas logo percebe que ainda tem muito a aprender.

Homem-Aranha e seus Incríveis Amigos! Não, pera, esse é outro desenho…

A série acompanha não apenas o Aranha e seus clássicos personagens de apoio, como Mary Jane, Harry Osborn e Tia May, mas também uma equipe de heróis novatos convocados pela SHIELD para trabalhar ao lado do protagonista, sendo eles versões adolescentes de Luke Cage (aqui chamado de “Power Man”), Punho de Ferro, Nova e Tigresa Branca, que são também colegas de aula de Peter, além do próprio núcleo da SHIELD (inclusive, o Agente Coulson em pessoa é o diretor da escola) e diversos heróis e vilões da Marvel, que fazem participações especiais em alguns episódios.

“Ultimate” é um desenho essencialmente de comédia, com algumas pitadas de ação. Momentos mais sérios e dramáticos até existem, mas são raros. A pegada é semelhante a “Os Jovens Titãs”, inclusive por se tratar de uma equipe de heróis inexperientes e possuir aquele humor nonsense característico dos animes (com os personagens ficando baixinhos e cabeçudos, no estilo Chibi, por exemplo), mas não possui o mesmo brilho. Isso porque os realizadores da série não souberam dosar esse aspecto.

Entendeu o que eu quis dizer?

Devido ao foco excessivo no humor, a série perde muito em qualidade e não desperta tanto interesse no espectador. Em episódios com uma trama mais descontraída, a comédia funciona muito bem (o episódio em que o Aranha troca de corpo com o Wolverine é impagável). No entanto, quando o roteiro pede um pouco mais de sobriedade, começam a pipocar piadas bobinhas, cenas fora de contexto (com o Dr. Destino estendendo roupa no varal ou coisa do tipo) e quebras da quarta parede, o que acaba removendo a gravidade da situação e nos deixando menos investidos no clima que a cena pretendia passar.

Isso se percebe principalmente na própria atitude do Aranha. Quero dizer, o personagem sempre foi bem-humorado desde suas primeiras aventuras nas HQs, tirando sarro de seus inimigos o tempo todo. Mas aqui isso foi elevado à décima potência, com o herói sendo engraçadinho com e sem o uniforme, não levando nada a sério e sendo extremamente atrapalhado, o que o torna motivo de piada entre os demais personagens. Fora as já mencionadas quebras de quarta parede, que o Aranha faz frequentemente, deixando ele mais parecido com o Deadpool ao interagir diretamente com o espectador.

Agora imagina o Aranha desse desenho encontrando o Deadpool? Sim, isso aconteceu.

Os colegas de equipe do Aranha são bacanas, mas bem unidimensionais, apresentando um ou no máximo dois traços de personalidade (O Nova é brincalhão, o Punho de Ferro é sábio e centrado, e assim por diante). Devido a esse foco no pessoal da SHIELD, os clássicos personagens coadjuvantes do Aranha acabaram ficando para escanteio. O pavio-curto J. Jonah Jameson, por exemplo, que agora é apresentador de um noticiário sensacionalista no melhor estilo José Luiz Datena, tem suas aparições restritas a xingar o maldito Escalador de Paredes pelo telão da Times Square. Quem aparece com mais frequência é a Tia May, mas ela é uma senhora independente e agitada, fazendo diversas atividades como esportes radicais e ginástica, não precisando mais ser tão amparada por Peter.

Aliás, esse é o grande problema no retrato do Homem-Aranha criado pela série: ela mostra apenas o lado divertido de ser um super-herói. As lutas contra vilões, os gadgets maneiros da SHIELD, encontrar com as lendas vivas dos Vingadores, etc. Sendo que a história do Aranha sempre foi permeada de perda, sofrimento e superação. Peter diversas vezes já demonstrou o quão difícil é bancar o herói, mas sabe que essa é sua responsabilidade e prefere carregar seu fardo com otimismo, e daí vem o seu bom-humor. Esse fator causa uma grande identificação do público com o personagem. No desenho, ele não tem problemas reais: não se dá mal nas provas, não precisa arrumar um emprego, não tem de ajudar com as contas de casa, nada desse tipo. Nem os seus rolos amorosos recebem a devida atenção, o que é um pecado terrível.

Peter Parker é um nerd descolado?? DOES NOT COMPUTE!!

Quanto aos vilões, diversos deles aparecem ao longo da série, inclusive rostos bem obscuros como o Quarteto Terrível, o Homem-Dragão e Batroc, o Saltador. Os principais antagonistas são, como esperado, Norman Osborn/Duende Verde, Dr. Octopus e Venom. No entanto, a dinâmica desses personagens entre si e com o Aranha é bem diferente do usual. Por exemplo, na série, o simbionte do Venom não é um alienígena, e sim uma cria do laboratório de Octopus, que extraiu a maldade (?) de uma amostra sanguínea do próprio Peter para criá-lo, entre outras alterações, algumas interessantes, outras bem toscas.

Mas a série possui algumas qualidades. Certos episódios são bem conduzidos e se sobressaem em meio aos demais (inclusive escritos por gente do calibre de Paul Dini e do próprio Brian Michael Bendis), bem como a animação e o design estão acima da média das animações para TV – isso na primeira temporada, a partir da segunda essa parte decai um pouco. As aparições de heróis convidados como os Vingadores, Deadpool, Wolverine, Dr. Estranho e os Guardiões da Galáxia são sempre divertidas de acompanhar. A dublagem está bacana, tanto a original como a brasileira, sem muito a destacar – exceto o fato do Drake Bell, de Drake e Josh, fazer a voz do Aranha (masoq?) e Clark Gregg e J. K Simmons reprisarem seus famosos papéis do cinema como o Agente Coulson e J. J. Jameson, respectivamente.

A Rede de Guerreiros!! É, os “Cabeças de Teia” teria sido um nome melhor.

Na transição da terceira para a quarta temporada, é introduzido o interessante conceito da “Rede de Guerreiros” (Web-Warriors), primeiro com o Aranha se unindo a Homens-Aranha de realidades alternativas, como o Homem-Aranha Noir e o Porco-Aranha (sim, o próprio), e depois montando sua própria equipe de heróis aracnídeos, com personagens como o Agente Venom, o Aranha-Escarlate e Miles Morales. Essa é, de longe, a fase mais interessante do desenho, pois parece muito mais orgânico ver o Aranha liderando um time nesse estilo do que um grupo de heróis heterogêneos, além da satisfação de ver esses personagens mais recentes nos quadrinhos sendo bem adaptados. Até mesmo o humor passa a ser mais contido, mas ainda temos alguns episódios mais galhofa e feitos para pura enrolação mesmo (inclusive um lamentável crossover com Jessie, do seriado da Disney Channel…). A série termina com um episódio duplo que amarra praticamente todas as pontas soltas, sem deixar muita margem para desenvolverem novas aventuras, sendo de fato um bom encerramento.

Se você acha esse Dr. Octopus esquisito, não se preocupe, ele fica ainda pior depois.

Concluindo, Ultimate Homem-Aranha é uma animação divertida, descompromissada e recheada de fanservice para o delírio de quem acompanha a Marvel de perto. No entanto, a comédia escrachada e constante, os roteiros simples demais – com alguns momentos de brilhantismo – e os personagens rasos podem acabar prejudicando a sua experiência. É uma obra sem muita pretensão, que não procura ser algo mais do que um simples desenho para fazer as crianças rirem e comprar brinquedos, o que certamente não condiz com a grandeza de um personagem como o Homem-Aranha, apreciado por crianças, jovens e adultos há muitas gerações. O Amigão da Vizinhança merecia bem mais.

Por outro lado, eu estaria mentindo se dissesse que não dei risadas com alguns episódios – até porque curto uma boa zoeira -, o que, de certa forma, faz com que a animação cumpra seu objetivo: divertir. Então, se você assistir de mente aberta e considerando que se trata de uma comédia com super-heróis, sem levar muito a sério o que acontece em tela, pode acabar se divertindo também.

Ah, sim, ele tem uma moto nesse desenho. E você que achava o Buggy-Aranha uma má ideia…

E quanto a vocês? Já assistiram a essa animação? Caso sim, o que acharam dela? Compartilhe com a gente suas opiniões no espaço abaixo e comente sua sugestão para um futuro post aqui no site. Obrigado pela atenção!

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