Superman | Reinvenções e Evolução

Creio que a essa altura já ficou claro o quanto eu amo o Superman, como não amar? Ele é tudo que há de melhor  em nós, o máximo exemplo a se seguir. Para muitos ele é um personagem unilateral, mas a realidade é que ele foi lapidado ao longo dos anos e reinventado de diversas formas, até porque, que personagem icônico não foi?

Histórias emaculadas nunca se tornam icônicas, ao fazer um paralelo com a literatura gótica e os tais monstros famosos da universal, pode-se ter certeza que se as obras originais permanecessem intocadas, jamais se tornariam os grandes fenômenos pop que são . Se o Frankenstein de Mary Shelley nunca tivesse sido interpretado por Boris Karloff, e eventualmente sido visto em diversas formas de ficção ele não seria essa figura emblemática .

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O mesmo poderia ser dito a respeito de Sherlock Holmes, do Rei Arthur, mas o ponto principal aqui é que isso é a mais pura verdade sobre o Superman . Ok que em um retrospecto isso acarreta em diversas histórias ruins sem o toque do autor original, mas por outro cria inovações e reinvenções ótimas dos mesmos personagens, mas em relação ao Superman, ele foi criado em nome das reinvenções .

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Sem querer faltar consideração com Jerry Siegel e Joe Shuster, mas quando eles criaram o Superman, eles não criaram um ideal, ou tinham uma forma de narrativa totalmente inovadora, oque eles tinham na verdade, eram uma puta de uma ideia do cacete. O ponto é que esses dois criaram o protótipo perfeito para a forma que o Superman se tornou, mas não foi feito da maneira como devia .

Apesar de haver uma crença popular de que os super-heróis da DC passaram a ser “bonzinhos” após a publicação de “A Sedução dos Inocentes”  a maioria deles já era bem antes, o próprio Superman impede o execução pública de homem suspeito de homicídio logo na primeira edição de sua história solo, ainda na Era de Ouro. Mas foi um ano após o surgimento do Superman, deflagrou-se a Segunda Guerra Mundial, a de se entender que o Superman carrancudo do início da Era de Ouro era um reflexo da época, que estava saindo da Crise de 29, então as pessoas não estavam exatamente felizes . Desemprego, suicídio, crime, era isso oque assolava aquela década, mas quando a guerra começou, as pessoas precisavam de um verdadeiro herói, para defender a verdade, justiça e o jeito americano naquele período, precisavam do Superman.

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Assim o personagem havia finalmente encontrado seu norte, o herói ideal e bonzinho, uma representação da esperança feita pela imaginação humana . Mas ao fim da guerra o personagem poderia continuar sendo esse mesmo que era? A resposta, é que claro que sim, ele podia ser exatamente o mesmo herói que se tornou, mas de uma forma diferente, por mais contraditório que isso soe, ser o mesmo que era de um jeito diferente é o que separa uma reinvenção de uma descaracterização.

Voltando ao ponto em que eu estava antes quando fiz a comparação com como o Frankenstein se tornou um ícone, o Superman ganhou muito com suas adaptações, tal como Boris Karloff criou a imagem máxima do Frankenstein, as primeiras animações do Superman deram a ele um elemento que hoje somos incapazes de imagina-lo sem: O seu voo .

Acho que já pude explicar o porque as adaptações são tão importantes para um personagem, mas no seu pré-crise, pouco antes da Crise Nas Infinitas Terras, o Superman estava saturado, mau aproveitado, e de diversas formas ridículo, sendo muitas vezes uma paródia do que ele era nos anos 50 e 60. Então nos fim dos anos 70 e meados dos 80 vieram duas versões que renovavam o Superman, eu falo é claro do Superman de Richard Donner, e do Superman de John Byrne .

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O filme de Richard abre com a origem do Superman, e através de cenas de sua juventude, a contada do que o levou a ser o Superman humaniza o personagem de uma forma que nem se quer se pensava em ser feito nos quadrinhos da época, mas ao mesmo tempo mantém toda aquela aura de grande herói da Terra, e do quão ele é admirado, e em sua continuação mostra o Superman tendo que desistir de seu maior sonho, querer ser humano, por isso Clark Kent era de um disfarce para uma prova de sua humildade .

Por conta disso oque é feito nas adaptações não pode ser desprezado, mas por outro lado, são os próprios quadrinhos que são a fonte da adaptação, o material a ser adaptado, por isso o pós-Crise foi muito importante pra DC, pois foi aí que refizeram o Superman, e reafirmaram seus conceitos para todo uma nova geração de leitores, isso foi feito por John Byrne .

A história de John Byrne diminuía a carga cronológica do Superman, e apaga elementos que uma vez já saturados pela insanidade das histórias da Era de Prata, tornavam-se desnecessários, e de certa forma incômodos dentro da mitologia do Superman, assim sem passado como Superboy, sem 10 mil Superpessoas, e sem palheta de cores pra kryptonita, racionando o Superman de forma que ele possa ser o herói ideal, mas de um jeito diferente, e nesse jeito, tornou as coisas mais simples.

Isso inseriu uma coisa do personagem que era pouca explorada antes dos filme do Donner, e acabou se tornando uma parte tão vital, mas tão indispensável do Superman, que fazer qualquer que seja a versão que desvalorize isso, estaria negando parte do Superman, eu me refiro é claro: A importância de Clark Kent. Nas histórias do Superman da Era de Ouro o Clark Kent era figura constante, sempre explorando seu lado repórter, mas pouco explorando o que ele significava para o Superman. Já nas histórias da Era de Prata ele é bem mais deixado de lado, sendo muito mais um disfarce pontual.

Isso é bem acertado pelo Superman do Alan Moore, que pode ver minha análise, clicando AQUI

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O filme de 1978 trouxe de mais a Clark Kent, isso muito pela sua sequência de abertura que mostra sua juventude, mas também por sua relação com Lois Lane. Lois se sente pequena num mundo com o tão poderoso Superman, mas em retrospecto o tímido Clark Kent fica intimidado pela ousadia e determinação de Lois Lane. A maneira como o Clark Kent se difere do Superman interpretado pelo Christopher Reeve é incrível a tal ponto que foi sua interpretação de Clark Kent que lhe deu o papel, não a de Superman. Tanto sua incrível interpretação, quanto sua relação com Lois Lane é representada nessa cena:

Aí está, tudo que Superman e Lois Lane são. Toda a timidez de Clark Kent para com Lois, e a sua súbita mudança para o Superman, numa personalidade totalmente diferente, o Superman quem impressiona Lois, que já havia salvado a vida dela a essa altura do filme, e Clark se mantendo em seu disfarce, apesar do que isso mudaria para sua relação com Lois Lane, ele se mantém na figura do repórter tímido, por um motivo que pode se resumir em humildade.

Existem diversas formas diferentes de interpretar a relação de Clark Kent e Superman, as vezes ele é Superman, e cria Clark Kent como uma forma de saciar um desejo humilde de ser apenas um homem, ou no caso do Superman de Alan Moore da primeira parte, ele é Kal-El, e tanto Superman quanto Clark Kent são criações como forma de saciar desejos dele .

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No caso de American Alien, um quadrinho que reconta a origem do Superman, essa relação é explorada de uma forma nova, e com toda certeza é um dos Supermen mais humanos já feitos, pois acima de tudo, ele é Clark Kent. Aqui ele é o próprio Clark Kent, e é Clark Kent quem cria o Superman como forma de saciar um desejo, o desejo de ajudar as pessoas, e nisso ele é admirado, e visto como um herói num universo DC em sua gênese .

Acho que já cheguei ao meu ponto, é sempre a mesma história, e o mesmo personagem de um jeito diferente, a mesma origem de Krypton, o mesmo herói que é admirado por todos em seu mundo, sempre Clark Kent, sempre voando, sempre um simbolo de esperança, a reinterpretação está em como ele é explorado, como Clark Kent vê o Superman e vice-versa, sempre de um jeito diferente. Mas as coisas ficam verdadeiramente diferentes quando tratamos das histórias que não são só imaginárias (até por que, todas são) mas sim, verdadeiramente alternativas.

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Na história Identidade Secreta, um jovem é muito fã do Superman, que no quadrinho, é um personagem igualmente fictício do mesmo modo que é o Superman do nosso, e ele mesmo é zoado na escola por se chamar Clark Kent, até que um dia descobre ter os mesmos poderes do personagem .

Mesmo sendo uma história que passe os valores do Superman, não é exatamente do personagem. De certo modo, o Superman é sempre o mesmo: Enviado do condenado planeta Krypton, ele é criado em Smallville pelo casal gentil de fazendeiros chamados Jonathan e Marta Kent, com seus grandes poderes, o reporter Clark Kent do Planeta Diário é secretamente o Superman, o maior herói da Terra.

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Quando é algo que se não isso, o personagem é uma desconstrução de si próprio, e essas desconstruções muitas vezes criam coisas lindas como Identidade Secreta, outras vezes não, como é o caso do quadrinho do Superman em que ele é um velho com uma metralhadora que luta com nazistas .

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(infelizmente isso aconteceu mesmo, anos 90, todos sofreram na mão de artistas)

O ponto é que na hora que você desconstrói determinado personagem você pode manter sua essência ou não . Em Os Supremos Mark Millar não altera radicalmente as histórias dos Vingadores, mas muda seu tom, e tira boa parte do que os personagens representavam, e por melhor que se tenha saído, os Vingadores do cinema nem de longe tem esse cinismo, pois são os Vingadores, não a desconstrução dos Vingadores .

Nesse ponto a de se compreender minha insatisfação com o Superman visto em Batman Vs Superman . Primeiro o Homem de Aço fez uma reinterpretação onde desconstruiu todo o Superman, e por fim terminou com ele salvando a Terra, e com aquele final sublime dele assumindo a identidade de Clark Kent .

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E a origem estava contada, ele passou por tudo aquilo, e terminou assumindo a identidade de Clark Kent aparecendo no Planeta Diário com um sorriso no rosto . Essa foi oque eu chamo de reinterpretação através da desconstrução, ou seja: Desconstruiu o personagem para que no fim ele se reconstrua, por isso a forma como ele é em Origem da Justiça não só é uma descaracterização, como não faz sentido narrativo .

Por fim oque quero dizer é que o Superman de Bruce Timm, Max Lands, John Byrne, Grant Morrison, Alan Moore e Richard Donner, por mais diferentes que sejam de uns dos outros, são exatamente o mesmo personagem de uma forma diferente, todos passam a esperança que o Superman passa, sendo a pondo numa situação de teste e mostrando que a mesma resiste isso, ou mostrando uma humanidade melhor pela presença do Superman .

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As reinterpretações, reimaginações, e diferentes visões do Superman, sem que o mesmo deixe de ser o Superman são o que tornam um ícone da cultura pop, além do papel e celulose, além do rádio, além da animação, além do cinema, o Superman se fez porque se tornou o simbolo de esperança numa época difícil, e se manteve porque a esperança sempre tem que existir, e ele representa isso, as vezes de um jeito, outras vezes de outro, mas enquanto ele for o Superman, ainda será uma história do maior personagem de todos os tempos, e como sabemos, super-heróis são imunes a desconstrução, por isso mesmo após Identidade Secreta, Entre a Foice e o Martelo, e outros, o Superman não mudou, isso que o torna tão especial.

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