Lista | 5 filmes vencedores do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro que merecem ser vistos

Saudações Geeks! Hoje a é grande festa da 90ª cerimônia de premiação do Academy Awards,  popularmente conhecido como Oscar. Ao longo de suas nove décadas de existência diversas categorias de premiação foram criadas (e outras tantas, extintas), e entre essas está uma das minhas favoritas: a de Melhor Filme Estrangeiro.

Uma premiação para os melhores filmes estrangeiros no Oscar existe desde os anos 40, mas esta inicialmente não era considerada uma categoria uma vez que o prêmio não era competitivo (ou seja, não existiam indicados, mas apenas o filme escolhido para levar o prêmio no ano), tendo portanto um caráter mais honorário. O prêmio passou a ser uma categoria competitiva, com uma lista de filmes indicados concorrendo à estatueta anualmente desde então, a partir da 29ª cerimônia em 1957, quando o fabuloso La Strada do gênio italiano Federico Fellini faturou o primeiro Oscar de Melhor Filme Estrangeiro disputado com outras obras.

Atualmente, o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro premia anualmente filmes produzidos fora dos EUA e cuja língua falada em pelo menos dois terços do filme não seja o inglês. O cinema europeu domina de forma absoluta a categoria com 56 prêmios ganhos dos 69 já distribuídos, em seguida vem o cinema asiático com 7 estatuetas e depois o cinema africano e das Américas (excluindo os EUA obviamente) com 3 estatuetas cada um. Apesar de tradicionalmente ser recebida pelo diretor do filme vencedor, a estatueta de melhor filme estrangeiro não é dirigida para uma pessoa específica mas sim para todo o país do filme vencedor.

Com o Oscar se tornando um evento transmitido e visto pelo mundo inteiro, a categoria de Melhor Filme Estrangeiro funciona como um bom chamariz para audiências de outros países que tem a chance de torcer pelo “seu” filme. Acima de tudo, entretanto, o premio de melhor filme estrangeiro proporciona que obras fora do eixo de Hollywood, e que são verdadeiras pérolas do cinema mundial, possam ser conhecidas e apreciadas por todo o mundo. Este ano, a categoria está novamente bem representada por belas obras como Mulher Fantástica do chileno Sebastian Lelio e The Square – A Arte da Discórdia do sueco Ruben Ostlund. Que o vencedor desse ano possa se juntar aos 5 filmes listados abaixo como belas obras cinematográficas que merecem ser vistas, conhecidas e discutidas pelos amantes da sétima arte.

5 – O Segredo de Seus Olhos (El Secreto de Sus Ojos, Argentina, 2009)

Não é de hoje que o cinema argentino é o lar do que de melhor a América do Sul tem a oferecer para a sétima arte. Não à toa, o país de nossos hermanos é o que detém os dois únicos Oscar de Melhor Filme Estrangeiro que já vieram para estas bandas até hoje. Uma destas estatuetas foi faturada por O Segredo de seus Olhos na cerimônia de 2010.

Dirigido por Juan José Campanella, o filme é protagonizado pelo personagem Benjamim Esposito (interpretado pelo excelente, e onipresente, Ricardo Darin). O ano é 1999 e Esposito, é um ex-servidor e recém aposentado da policia argentina que aproveita o tempo livre para escrever um livro. Para isso, ele se inspira em um de seus antigos casos, ocorrido a 25 anos, e que o marcou para sempre: o estupro seguido do assassinato da jovem Liliana Colotto (Carla Quevedo).

Ao longo do filme, Esposito revisita cada detalhe do caso: seu choque perante à cena do crime, o encontro com Ricardo Morales (Pablo Rago), marido da vítima, sua indignação com a justiça personificada pelo servidor Romano (Mariano Argento), que tortura trabalhadores pobres inocentes para se declararem culpados apenas para por um fim rápido ao caso, e sua obsessão em descobrir e prender o verdadeiro assassino, fazendo-o agir fora dos limites da lei, sempre auxiliado pelo colega Pablo Sandoval (Guillermo Francella) e acobertado por Irene Hastings (Soledad Villamil), chefe superiora de Esposito por quem o mesmo nutre uma forte (e reciproca) paixão, nunca consumada devido ao compromisso de Irene com seu noivo e à insegurança de Esposito.

É através desse emaranhado de histórias, e personagens, que Campanella constrói um retrato real da historia recente argentina, marcada pela violência e autoritarismo de um regime militar, e trabalha as mais profundas emoções de amor, paixão e obsessão, seja aquelas que unem uma pessoa a outra quanto aquelas que unem alguém a um clube de futebol (a sequência de perseguição no estádio de futebol é algo de tirar o folego e diz muito sobre a relação dos argentinos com a pelota). Como outras coisas que caracterizam a Argentina, seu povo e sua cultura; O Segredo de Seus Olhos é como um bom e clássico tango, a dança-simbolo do país: emocional, forte, intenso, dramático… e belo.

4 – A Separação (Jodaeiye Nader az Simin, Irã, 2011)

Quando se fala do Irã, logo vem a mente um dos países mais fechados e anti-democráticos do mundo: uma teocracia de fundamentalistas que reprime as liberdades e anseios individuais através da imposição literal de leis religiosas. Por isso, é quase paradoxal quando se sabe que é justamente em ambiente tão sufocante que floresce um dos sopros mais refrescantes do cinema da atualidade.

A Separação, o grande vencedor entre os estrangeiros na cerimônia de 2012, é um dos ventos mais fortes desse sopro. Dirigido pelo cineasta-simbolo desse novo cinema iraniano,  Asghar Fahadi, o filme mostra o casal Nader (Peyman Moaadi) e Simin (Leila Hatami) em um momento crítico: Simin quer deixar o país para poder dar melhores condições para a filha Termeh (Sarina Fahadi). Nader, no entanto, quer ficar no Irã para cuidar do pai que sofre de Alzheimer. Assim, ambos chegam à conclusão que devem se separar, mesmo ainda estando apaixonados um pelo outro.

Sem uma mulher para cuidar da casa, Nader contrata Razieh (Sareh Bayat) como diarista para ser responsável pelos afazeres domésticos e pela rotina de seu pai. Razieh porém está grávida e aceitou o trabalho sem o consentimento de seu marido Hodjat (Shahab Hosseini). Essas condições, junto com um terrível incidente, acaba por levar as duas famílias a um julgamento de cunho moral e religioso.

Apenas alguém que viveu toda a realidade do Irã seria capaz de abordar a situação politica e religiosa do país de forma tão honesta, e sem cair nas caricaturas que são mostradas pelos telejornais e outros veiculos de comunição do resto do mundo, do jeito que Fahadi faz. Entretanto, mesmo que o regime politico-religioso esteja sempre pairando como uma sombra e interferindo em suas vidas, o que importa de verdade em A Separação são os personagens e a construção de suas intricadas e complexas relações.

Maridos e mulheres, pais e filhos (e também mães e filhas), patrões e empregados, todos são trabalhados sem apelar para qualquer clichê maniqueístas. Em A Separação, não existem bons e maus, heróis e vilões, apenas pessoas tentando viver suas vidas da forma que elas próprias acham melhor. É nessa sensibilidade em abordar as relações básicas da sociedade que Fahadi cria uma história intima e pessoal ao mesmo tempo que mostra que Ocidente e Oriente possuem mais semelhanças do que diferenças.

3 – Cinema Paradiso (Nuovo Cinema Paradiso, 1988, Itália)

Ah, o cinema italiano. Um verdadeiro colecionador de Oscar com nada menos do que 14 estatuetas (e 27 indicações!). Que nos deu Federico Fellini, Michelangelo Antonioni, Vittorio De Sica. E nos agraciou também com Giuseppe Tornatore, e seu esplendoroso Cinema Paradiso.

Vencedor da estatueta em 1990,  Cinema Paradiso mostra Salvatore Di Vita (Jacques Perrin), um bem-sucedido cineasta que reside em Roma. Um dia, Salvatore recebe um telefonema de sua mãe dizendo que Alfredo (Philippe Noiret) falecera. A menção a este nome leva Salvatore de volta para sua infância e ao Cinema Paradiso, para onde um pequeno Salvatore, então chamado de Totó (e interpretado pelo fofíssimo Salvatore Cascio) fugia sempre que terminava a missa em que participava como coroinha.

Nesse seu “refúgio”, Totó costumava espreitar as projeções pelas cortinas, enquanto o padre assistia previamente os filmes para censurar as cenas de beijo, além de conhecer e fazer companhia a Alfredo, o projecionista do Cinema Paradiso. Foi ali, naquele cinema que tinha o nome de Paradiso, que Totó aprendeu a amar o cinema e formou uma bela amizade com Alfredo.

Com uma linguagem simples, mas comovente, Tornatore faz de Cinema Paradiso sua ode ao cinema e a todos os seus amantes, porém, além de uma linda homenagem à sétima arte, Cinema Paradiso é um conto sobre singelas amizades que definem uma vida, sobre descobertas e perdas de amores e como a arte é sobretudo um estado de espirito universal, presente mesmo naqueles com menos instrução e oportunidade. Tudo isso embalado pela belissima trilha sonora do lendário Enio Morricone, fazendo de Cinema Paradiso uma experiência emocionante, um filme para se guardar (como já dizia a musica de Milton Nascimento) do lado esquerdo do peito. Assim como os amigos.

2 – A Noite Americana (La Nuit  Américaine, França,  1973)

Tão genial e importante quanto o cinema italiano é o cinema francês, como atestam as mais de 30 indicações(!) que o país já recebeu ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Um dos cineastas que mais contribuiu para essa grande tradição foi o inesquecível François Truffaut que dirigiu, entre outras obras primas, a divertida e brilhante A Noite Americana.

A Noite Americana faturou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 1974. Assim como Cinema Paradiso, A Noite Americana pode ser considerada uma homenagem de Truffaut ao cinema. Entretanto, diferente da aura mais “romântica e saudosista” de Cinema Paradiso, Truffaut leva para A Noite Americana uma abordagem mais “realista” e fortemente autobiográfica.

A Noite Americana mostra Ferrand (interpretado pelo próprio Truffaut), um cineasta durante a produção de seu próximo filme chamado  Je vous présente Pamela. Ao longo da produção, Ferrand terá que lidar com toda a sorte de imprevistos, com o ego inflado dos atores e atrizes, problemas de bastidores, seus próprios problemas pessoais e bolar as soluções mais improvisadas possíveis que incluem até o furto de objetos do hotel onde está hospedado para compor um cenário. E como nada é tão ruim que não possa piorar, o affair engatado pelos atores principais Alphonse (Jean-Pierre Léaud) e Julie (Jacqueline Bisset) trará mais dor de cabeça e problemas para Ferrand enfrentar se quiser terminar seu filme a tempo.

É com esta metalinguagem que Truffaut usa o cinema para falar sobre… o cinema! Mais especificamente sobre o “fazer cinema” e oferece um prato cheio para todos os curiosos sobre os truques e técnicas de uma produção cinematográfica, como as marcações no chão para que cada ator saiba onde ficar durante a cena, papéis com as falas pregados na parede para que aquele ator que NUNCA grava suas falas saiba o que dizer. O próprio titulo do filme é o nome de uma conhecida técnica usada para fazer com que cenas gravadas à luz do dia pareçam ocorrer à noite durante o filme. Tudo sempre pontuado por um belíssimo senso de humor e diálogos precisos. É impossível não imaginar que Truffaut deva ter vivido de verdade muitas situações presentes no filme e como terapêutico deve ter sido externar para o publico todos os percalços que devem ser superados para criar a magia do cinema. Sem duvida, o filme mais divertido dessa lista.

1 – Ladrões de Bicicleta (Ladri di Biciclette, Itália, 1948)

Uma das maiores obras-primas do cinema de todos os tempos. Expoente máximo do neo-realismo italiano e premiado como o melhor filme estrangeiro em 1950, quando o prêmio ainda era honorário, o filme é dirigido pelo gênio Vittorio De Sica que se valeu de atores amadores para contar uma história linda e humana em toda a sua essência.

Se passando na Itália do pós-Guerra, quando o desemprego e a pobreza assolavam a maio parte da população, o filme de De Sica nos apresenta Antonio Ricci (Lamberto Maggiorani), um homem que como muitos luta pela sua sobrevivência, e pela a de seu filho Bruno (Enzo Staiola). No que parece um sorriso da boa sorte, Antonio consegue um emprego como colocador de cartazes. Entretanto, a atividade exige uma bicicleta e para conseguir uma, Antonio penhora diversos objetos de sua casa.

O destino, no entanto, prega uma cruel peça com Antonio quando sua bicicleta acaba sendo roubada. Sem bicicleta, não tem trabalho, sem trabalho, não há esperança. Assim, Antonio e Bruno, pai e filho, partem em uma jornada pelas ruas de Roma atrás da bicicleta. É com essa premissa que De Sica transporta o espectador para dentro das vidas de Antonio e Bruno explorando com sensibilidade impar a relação de companheirismo e cumplicidade entre pai e filho e nos faz sentir toda a tristeza e desespero que toma conta de um país recém-saído da guerra que põem em xeque os valores morais da sociedade italiana.

A bicicleta que Antonio e Bruno buscam com tanto afinco, representa aqui mais do que um meio de transporte: é a materialização de suas próprias esperanças, esperanças das quais este mundo impessoal insiste em priva-los e é essa busca pela esperança que torna Ladrões de Bicicleta uma obra atemporal e transformadora. Podemos não admitir, ou nem sequer perceber, mas uma vez que a assistimos, jamais voltamos a ser como eramos antes.

 

É isso ai Geeks! Espero que tenham gostado da lista! Tem algum filme estrangeiro que você adora? Alguma aposta para o ganhador desse ano? Comenta aí!  

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