Lista | Tecnologias de leitura e controle da mente que chegarão

A capacidade de detectar atividade elétrica no cérebro por meio do couro cabeludo e de controlá-la logo transformará a medicina e mudará profundamente a sociedade. Os padrões de atividade elétrica no cérebro podem revelar a cognição de uma pessoa – normal e anormal. Novos métodos para estimular circuitos cerebrais específicos podem tratar doenças neurológicas e mentais e controlar o comportamento. Ao cruzar esse limiar de grande promessa, enfrentamos dilemas éticos difíceis.

LEITURA DE MENTES

Resumo do Livro A Arte de Ler Mentes, de Henrik Fexeus, em PDF -

A capacidade de interrogar e manipular a atividade elétrica no cérebro humano promete fazer pelo cérebro o que a bioquímica fez pelo corpo. Quando você vai ao médico, uma análise química do seu sangue é usada para detectar a saúde do seu corpo e doenças potenciais. Avisado de que seu nível de colesterol está alto e que você corre o risco de ter um derrame, você pode tomar medidas para evitar sofrê-lo. Da mesma forma, em pesquisas experimentais destinadas a entrar em breve na prática médica, apenas alguns minutos de monitoramento da atividade elétrica em seu cérebro usando EEG e outros métodos podem revelar não apenas doenças neurológicas, mas também condições mentais como TDAH e esquizofrenia. Além do mais, cinco minutos monitorando a atividade elétrica que flui pelo cérebro, enquanto você não faz nada além de deixar sua mente vagar, podem revelar como seu cérebro individual está conectado.

O neurocientista Marcel Just e seus colegas da Carnegie Mellon University estão usando imagens do cérebro de fMRI para decifrar o que uma pessoa está pensando. Ao usar o aprendizado de máquina para analisar padrões complexos de atividade no cérebro de uma pessoa quando ela pensa em um número ou objeto específico, lê uma frase, experimenta uma emoção particular ou aprende um novo tipo de informação, os pesquisadores podem ler mentes e conhecer as especificidades da pessoa pensamentos e emoções. “Nada é mais privado do que um pensamento”, diz Just, mas essa privacidade não é mais sacrossanta.

Armados com a capacidade de saber o que uma pessoa está pensando, os cientistas podem fazer ainda mais. Eles podem prever o que uma pessoa pode fazer. Just e sua equipe são capazes de dizer se uma pessoa está pensando em suicídio, simplesmente observando como o cérebro da pessoa responde ao ouvir palavras como “morte” ou “felicidade”. Como mostram as trágicas mortes do comediante Robin Williams e do famoso chef Anthony Bourdain, o suicídio costuma ser um choque porque as pessoas tendem a esconder seus pensamentos suicidas, mesmo de entes queridos e terapeutas.

Esse tipo de “hackeamento cerebral” para descobrir que alguém está pensando em suicídio pode salvar vidas. A técnica aplicada aos assassinos em massa do colégio Columbine pode ter evitado o horror de dois adolescentes problemáticos massacrando seus colegas e professores, bem como seus próprios suicídios. Mas esse insight sobre a ideação suicida é obtido pelo julgamento de que o padrão de atividade cerebral de um indivíduo se desvia do que é considerado “normal”, definido como a resposta média de uma grande população.

CONTROLE MENTAL

A capacidade de controlar a atividade elétrica em circuitos cerebrais tem o potencial de fazer para distúrbios cerebrais o que a estimulação elétrica conseguiu no tratamento de distúrbios cardíacos. Ao irradiar pulsos elétricos ou magnéticos pelo couro cabeludo e ao implantar eletrodos no cérebro, pesquisadores e médicos podem tratar uma vasta gama de distúrbios neurológicos e psiquiátricos, desde o mal de Parkinson até a depressão crônica.

Mas a perspectiva de “controle da mente” assusta muitos, e a estimulação cerebral para modificar o comportamento e tratar doenças mentais tem uma história sórdida. Na década de 1970, o neuropsicólogo Robert Heath, da Tulane University, inseriu eletrodos no cérebro de um homem homossexual para “curá-lo” de sua natureza homossexual, estimulando o centro de prazer de seu cérebro ( não resolveu, mas foi o inicio de pesquisas). O neurocientista espanhol José Delgado usou estimulação cerebral em macacos, pessoas e até mesmo em um touro em carga para entender como, em um nível de circuito neural, comportamentos e funções específicos são controlados – e para controlá-los à vontade pressionando botões em seu dispositivo de eletrodos de energização controlado por rádio implantado no cérebro. Controlar movimentos, alterar pensamentos, evocar memórias, raiva e paixão estavam nas pontas dos dedos de Delgado.

A perspectiva de controlar o cérebro de uma pessoa por estimulação elétrica é perturbadora para muitos, mas os métodos atuais de tratamento de distúrbios mentais e neurológicos são terrivelmente inadequados e muito contundentes. As drogas neurológicas e psicoativas afetam muitos circuitos neurais diferentes, além do direcionado, causando efeitos colaterais abrangentes. Não apenas o cérebro, mas todas as células do corpo que interagem com os medicamentos, como os ISRSs para o tratamento da depressão crônica, serão afetadas.

A pesquisa nesse campo, até agora, trabalhava com sensores que interpretavam o processo do pensamento e transformavam isso em dados, pouco havia sido feito no sentido oposto. Isso porque é bem mais fácil fazer um computador “entender” o que você está pensando do que “injetar” pensamentos em outro cérebro.

O BCI, então, detecta quando o sujeito olha para uma padrão específico na tela do computador e dispara um comando para o CBI (ou interface computador-cérebro) do rato, fazendo com que o ultrassom seja direcionado para a parte específica do cérebro responsável pelo movimento da cauda. A precisão é de 94 %, segundo os pesquisadores, e o processo inteiro toma em torno de 1,5 segundos.

Em tese, é possível conseguir o mesmo resultado apenas pensando em mover a cauda do rato. Os pesquisadores, no entanto, estão focados na interface que leva o sinal de ultrassom, o FUS.

CRUZANDO O LIMIAR

(Vasabii/iStock/Thinkstock)

Contra o pano de fundo histórico de lapsos éticos e preocupações que reduziram a pesquisa de estimulação cerebral para doenças mentais décadas atrás, estamos chegando a um ponto em que se tornará antiético negar tratamentos de doenças mentais ou neurológicas graves por estimulação optogenética ou elétrica do cérebro, ou impedir o diagnóstico de suas condições objetivamente pela leitura da atividade elétrica de seu cérebro. As novas capacidades de ser capaz de monitorar e manipular diretamente a atividade elétrica do cérebro levantam questões éticas assustadoras da tecnologia que não existia anteriormente. Mas o gênio saiu da garrafa. É melhor conhecê-la melhor.

Fonte: Scientific American

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