Parecia que o Universo dos X-Men iria depender apenas do Deadpool depois do último longa da franquia, eis que a Fox decide usar seu canal por assinatura, o FX em parceria com a Marvel Television, uma parceria inédita e que pegou os fãs de surpresa, para contar a história de um dos mutantes mais poderosos e controverso dos quadrinhos, Legião.
David Haller (Dan Stevens) é um mutante (filho do professor Xavier), que ao ser diagnosticado com esquizofrenia é internado em um hospital psiquiátrico. Mas com a chegada de uma nova paciente: Syd Barret (Rachel Keller), as coisas mudam, e David tem um real encontro com seus poderes.
Aqui temos um protagonista profundo e muito bem explorado, atores que souberam dar vida a seus respectivos personagens, uma produção e roteiro impecáveis e um vilão que vai te hipnotizar quando revelado pelo seu jeito único. Já no primeiro episodio contém referencias a Stanley Kubrick, uma direção inspirada de Noah Hawley. O visual da série é retro anos 70, remete um pouco até ao filme Laranja Mecânica, o diretor compartilha da ‘’obsessão’’ , por simetria e formas geométricas.
Legion é uma série sobre sanidade mental, sobre estabilidade psicológica, sobre explorar a a psique da mente humana de um jeito único, e como isso afeta a vida de cada uma das personagens , principalmente de David Haller. Noah agarra o conceito das habilidades mutantes de Haller como uma forma de pintar um quadro do isolamento e alienação que acompanha o constante sentimento de anormalidade.
Ao entrarmos na mente de David , no qual acontece grande parte do desenvolvimento da história, é inevitável o espectador sentir dúvidas quanto ao que está assistindo, mas isso só ocorre no início. Com o passar dos episódios, a familiaridade com as situações e desafios vai aumentando e ficamos mais conectados , tornando a experiência tanto prazerosa quanto inquietante.
A direção de Noah é impecável, os enquadramentos perfeccionistas, impecáveis abusos de foco na câmera, nas cenas mais rápidas o uso da “câmera de mão” e não cortes, isso trás uma imersão inigualável. Mas, o que não se pode negar é a absurda estilização da série, e isso é algo que fascina nos detalhes: O uso de tarjas pretas (usadas no cinema) quando se vai mostrar cenas fora da realidade principal do episódio, da trama ou até mesmo flashbacks, abusos de luzes, cenas montadas uma sobre a outra, e até mesmo apelações visuais extremamente coloridas, uma fotografia e direção de arte linear, presente em toda série.
A atuação de Aubrey Plaza, é o que chama mais atenção na série ,há de se reconhecer o conjunto da obra na construção de uma vilã ( ou vilão já que ela é uma criatura horrorosa e que se chama Rei das Sombras, inimigo declarado de Xavier nas HQs), equiparável ao protagonista, trazendo uma fricção necessária como uma antagonista que não está ali por puro maniqueísmo, em motivações que convergem e se confrontam. Enquanto Dan Stevens ,que interpreta o protagonista dá um show de atuação, o ator oscila entre os tiques e vícios de alguém que tem problemas mentais, com resquícios de ‘’normalidade’’, em alguns momentos até mesmo na mesma cena. Ele se mostrou extremamente competente e carismático.
Já Rachel Keller, que interpreta Syd Barrett, no começo não se mostrou muito carismática e se tornava um pouco apática até. Mas com o passar dos episódios e sua interação com o David, a personagem se tornou mais interessante, e até amável. O resto do elenco é competente , mas os verdadeiros destaques são os três atores citados.
Apesar de bizarra, inovadora e visualmente brilhante, Legion é belíssima, realmente inova e traz outra realidade desse mundo trivial de séries que vemos por aí. Esta foi uma das melhores séries de super-heróis apresentada até agora, cumpriu com a promessa, de trazer uma versão completamente diferente e ousada de tudo que os fãs de quadrinhos já viram nos cinemas ou na TV. Para quem quer uma historia com enredo inteligente, com um estilo ‘’indie’’, que só o Noah Hawley pode fazer ( Fargo é um ótimo exemplo) , esta é uma boa pedida.
Legion- EUA-2017
Showrunner: Noah Hawley
Direção: Michael Uppendahl e Noah Hawley
Roteiro: Noah Hawley
Elenco: Dan Stevens, Rachel Keller, Aubrey Plaza, Bill Irwin, Jeremie Harris, Amber Midthunder, Katie Aselton, Jean Smart, Mackenzie Gray, Jemaine Clement, Hamish Linklate
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