“What Ever Happened to Baby Jane”, que aqui no Brasil recebeu o título de “O Que Terá Acontecido A Baby Jane”, é um filme de terror psicológico, sendo uma adaptação da obra do mesmo título de Henry Farrel, lançado no ano de 1962 que é um considerado por muitos uma obra-prima do gênero. E não é para menos, Robert Aldrich criou uma obra atemporal que deve ser referenciada até os dias de hoje, mais de 50 anos após a sua estreia.
O filme começa com uma apresentação de uma criança que todos chamam de “Baby Jane Hudson”. A apresentação está lotada, onde todos pedem para ela cantar as músicas que a plateia pede e várias bonecas-réplicas são vendidas aos montes. Ela tem uma irmã, Blanche, que sempre ficava atrás dos holofotes e só observava a apresentação de sua irmã. Já percebemos nessa cena o comportamento das personagens, principalmente o de Jane que é uma criança mimada que faz confusão por motivos simples, como um sorvete. Anos se passam e a realidade muda e Blanche se torna famosa e numa fatídica noite: As irmãs estão voltando de uma festa quando, na frente do portão da sua casa, ocorre um acidente e Blanche fica paraplégica. Após isso os créditos sobem na tela e o espectador já não consegue mais desgrudar do filme. A cena do aleijamento de Blanche é excelentemente dirigida por Aldrich deixando um ótimo tom de suspense no ar tudo isso reforçado com a incrível trilha sonora de Frank de Vol. que sempre aparece no momento certo.
Após o incidente começam a surgir boatos de que foi sua irmã, Jane, a responsável pela tragédia levando a sua carreira, que estava não estava boa, ir de mal a pior de uma vez e agora ela tinha que cuidar de sua irmã para sempre. Já Blanche não pode mais atuar após o acidente. Vários anos depois Blanche, confinada a cadeira de rodas, é uma mulher calma, sensível que nunca mais saiu de sua casa. Já Jane ficou feia e cansada, fantasiando sobre o sucesso que um dia ela teve e como ele não irá voltar. Ela virou uma mulher rude e arrogante, principalmente com a sua vizinha a Senhora Bates, cujo seu reconforto é a bebida.
Temos um roteiro incrivelmente forte aqui. Mas não pense que há sangue, tripas e gore. Na verdade, não há uma gota de sangue sendo derramada no filme. O esplendor de sua história é como ele mexe com o psicológico do espectador. As torturas que Jane faz a Blanche são tantas que ela nem sabe se pode mais abrir o jantar trazido por sua irmã (numa cena espetacular). “What Ever Happened To Baby Jane” é um filme perturbador, sem sombra de dúvida.
Porém o ponto mais alto acima de tudo são as atuações de suas duas atrizes principais: Bette Davis e Joan Crawford. Joan entrega uma atuação sensível extremamente condizente com a personagem, sem nunca elevar a voz com a sua irmã. O espectador pode sentir o medo em sua voz quando Jane aparece.
Já Bette por outro lado, merecidamente indicada ao Óscar pelo papel, entrega uma atuação muito assustadora. Ela transita facilmente entre a inocência de uma mulher que só quer voltar a ser famosa com a de uma insana completa. E o fato das duas atrizes, na vida real, se odiarem, as histórias e lendas desses bastidores são muito famosas, adiciona mais veracidade as suas cenas juntas.
O terceiro ato desse filme é um espetáculo à parte. Vemos o quão longe chega à loucura de Jane e as tensas cenas em que Blanche tenta pedir ajuda, sempre se dificultando graças à cadeira de rodas. Com a cena da praia no final do filme, Aldrich consegue terminar o filme de forma perfeita e o espectador fica com um sorriso ao saber que viu um filme fantástico.
“What Ever Happened To Baby Jane” é um filme mais que incrível. Seus temas continuam atuais, sua história continua perturbadora, seus aspectos técnicos continuam sendo de aplaudir, suas atuações continuam sendo marcantes e o seu legado ainda vive mesmo após quase 55 anos desde o seu lançamento.
Ps: Domingo (5), estreou a série “Feud” que em sua primeira temporada irá abordar a citada briga entre Joan Crawford e Bette Davis. O post de primeiras impressões saíra em breve.
Título Original: “What Ever Happend to Baby Jane?” (1962)
Direção: Robert Aldrich
Roteiro: Lukas Heller e Henry Farrel (Livro)
Elenco: Bette Davis, Joan Crawford, Victor Buono, Wesley Addy, Marjorie Bennett, Anna Lee e Madie Norman
Comments are closed.