O “ego” é um conceito criado por Sigmund Freud como um dos pilares fundamentais da psicanálise. Em linhas bem gerais, o ego é uma parte de nosso subconsciente, responsável pela razão e pelo equilíbrio do nosso “querer-ser” com o nosso “dever-ser”, ou seja, é ele quem decide o certo e o errado, racionalmente falando. Esse termo não poderia ser mais adequado para servir como título deste fantástico conto do Batman, que descobri recentemente.
Escrita e ilustrada por Darwyn Cooke (R.I.P. 2016), o mesmo autor do clássico “DC: A Nova Fronteira”, que já foi inclusive adaptado em animação, esta HQ foi lançada em 2000 e é uma das melhores histórias do homem-morcego, apesar de não ser muito conhecida, mesmo entre os fãs do personagem.
A história começa com um Batman cansado e ferido perseguindo um criminoso que estava a serviço do Coringa. A empreitada tem sucesso, mas acaba tendo um desfecho amargo. Retornando à Bat-Caverna, o herói começa a refletir sobre o ocorrido e seu papel como vigilante em Gotham City e resolve tomar uma decisão drástica: desistir de tudo. No entanto, um inesperado visitante surge na tela do Bat-Computador para convencê-lo do contrário, e então se inicia um inusitado diálogo entre eles.
Esse é um resumo dos mais resumidos da história, pois o melhor é se surpreender com as reviravoltas e as revelações do enredo. Temos aqui um estudo muito interessante da psicologia do Batman e da sua importância, não apenas para a cidade que ele defende, como também para seus aliados, seus inimigos e para o próprio Bruce Wayne, além de lançar vários questionamentos pungentes, como: Gotham City precisa mesmo de um Batman? Qual o seu impacto na criminalidade? E se Bruce realmente desistisse da jornada de vigilante?
O roteiro é um dos pontos fortes da obra. A história é focada quase que somente em Batman e seu interlocutor, os quais travam uma intensa discussão sobre a conduta e o futuro do Cavaleiro das Trevas, inclusive trazendo à tona os diversos sucessos e fracassos de sua carreira. Ambos os lados apresentam fortes argumentos para defender seus pontos, e o debate vai escalando gradualmente até seu poderoso final. O autor demonstra ter uma grande compreensão da essência do herói e de como seu universo funciona, desconstruindo-o brilhantemente.
A arte de Cooke complementa a narrativa de forma magistral. Os quadros, as cores, o jogo de luz e sombra, as proporções, tudo é extremamente bem planejado para acompanhar o roteiro e as ideias propostas. Seus traços apenas parecem ser simplistas. Repare nas expressões faciais e corporais dos personagens enquanto lê: somente elas já comunicam tanto quanto os próprios diálogos. Aliás, não pude deixar de notar o quanto seu estilo lembra o de Bruce Timm, responsável pelo design das animações da Warner pertencentes ao selo DCAU (DC Animated Universe). A HQ lembra um grande storyboard, prontinho para ser adaptado em forma de filme animado.
Em suma, confira Batman: Ego. É uma leitura obrigatória para todo e qualquer fã do homem-morcego e de super-heróis de forma geral, e mais uma prova do grande talento de Darwyn Cooke no gênero. É uma pena não ser tão valorizada quanto outras HQs do Batman. Esta história realmente merecia uma maior atenção dos leitores.
E quanto a vocês? Já conheciam essa HQ? Se sim, o que acharam dela? Deixem seus comentários logo abaixo para eu ver. Obrigado pela atenção!
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