Vertigo, uma ilha de ideias e de originalidade rodeada em um mar perigoso e violento de super-heróis viciados em esteroides e praticantes de violência gratuita. Numa era em que os títulos mais vendidos eram desprovidos de qualquer conteúdo literário, este selo foi criado pela DC Comics pela poder mostrar ao mundo grandes obras como o Monstro do Pântano de Alan Moore, o Homem-Animal de Grant Morrison ou o Sandman de Neil Gaiman. Pelo menos, é o que muita gente pensa. Na verdade, a Vertigo foi criada apenas em 1993, e apenas Sandman e Shade continuavam com os escritores originais, Gaiman e Peter Milligan, respectivamente. E o nascimento deve também muito à Disney, por falhar em arrancar com a sua linha de revistas adultos, que se devia ter chamado Touchmark.
É verdade, sim, que a existência de uma série de títulos que tinham em comum apenas a indicação “Suggested for Mature Readers” nas capas, foi a base de sustentação para a criação da Vertigo. Karen Berger foi a responsável por recrutar os membros da “Invasão Britânica” da DC Comics nos anos 80, trazendo para a DC nomes como os já mencionados Moore, Morrison, Gaiman e Milligan, mas também Jamie Delano, Garth Ennis e Warren Ellis. Claro, nem todos eram britânicos, e escritores como Rick Veitch, Mike Grell, Howard Chaykin, Tim Truman e Denny O’Neil também faziam parte desta lista de criadores que contribuíram para esta linha para leitores adultos, mais distanciada das tradicionais histórias de super-heróis (o editor Mike Gold também estava envolvido, trazendo alguns destes nomes quando saiu da First Comics, editora que tinha ajudado a fundar).
No entanto, nem todas estas revistas sobreviveram o suficiente para serem incluídas na Vertigo, incluindo o Questão de O’Neil ou o Arqueiro Verde de Grell. Mas a janela para a criação da Vertigo abre-se graças ao regresso à DC do editor Art Young, que antes trabalhava para a Disney. Young era responsável pela Touchmark Comics, uma nova linha que fazia parte da expansão da Disney Comics para 1991, na época em que a empresa tinha o seu próprio departamento editorial. No entanto, a linha central era pouco apelativa e não vendeu o suficiente para justificar o investimento adicional na expansão.
Young apareceu na porta de Berger com uma mão cheia de títulos, que seriam propriedade dos criadores. Ao contrário da Marvel e da sua Epic Comics, a DC não tinha muita experiência com títulos deste tipo (“Ronin” de Frank Miller e “Gilgamesh II” de Jim Starlin eram honrosas excepções), com a divisão Piranha/Paradox Press a ter este material a seu cargo, mas de uma natureza mais experimental que qualquer produção da Vertigo. A linha nascia, publicando títulos já existentes: “Animal Man” (começando no nº 57), “Doom Patrol” (nº 64), “Hellblazer” (nº 63), “Sandman” (nº 47), “Shade, the Changing Man” (nº 33) e “Swamp Thing” (nº 129), o chamado Universo Vertigo, que, mesmo com alguns crossovers entre títulos, na verdade nunca existiu.
As primeiras mini-séries a começarem no início foram “Death: The High Cost of Living”, um spin-off de “Sandman” com a personagem favorita do público (Morte) e um dos títulos previstos para a linha Touchmark, “Enigma”. Durante o primeiro ano de atividade, foram lançadas novas séries de títulos anteriores à Vertigo, incluindo “Books of Magic”, “Black Orchid” e “Kid Eternity”, bem como algum material destinado à extinta Touchmark, nomeadamente as mini-séries “The Extremist” e “Sebastian O” e a edição especial “Mercy”, permitindo ao selo ser uma linha cada vez mais diversificada.
Com tantas revistas de gêneros literários diferentes, seria necessário algo para dar identidade à Vertigo. Dado o comportamento comum das lojas juntarem as suas revistas por editora, as capas mais concetuais já lhes permitiria distinguir-se do material à sua volta, mas o elemento comum que unificou toda a linha foi o seu design, o chamado ”trade dress”. A DC já tinha inovado nos anos 40 ao criar um logotipo para todas as suas revistas, seguindo-se as corner boxes da Marvel, introduzidas nos anos 60. Karen Berger foi mais longe e não só unificou o design das capas como também da página editorial e das seções de cartas. As revistas Vertigo tinham assim uma identidade própria difícil de duplicar.
À medida que alguns títulos que tinham começado na DC eram cancelados (“Shade”, “Doom Patrol” e “Black Orchid” foram os primeiros), Berger começou a permitir que fossem criadas séries continuadas que pertenciam aos criadores. Até ali, apenas haviam sido publicadas mini-séries, mas 1994 ficou marcado pelo lançamento de “The Invisibles” de Grant Morrison e de “Preacher” de Garth Ennis. Ao contrário do que era feito em editoras como a First Comics ou a Comico, estas séries seguiam a inspiração de “Sandman”, e estavam programadas para concluir a história após um determinado número. “The Invisibles” foi um objeto de culto, mas “Preacher” tornou-se o primeiro êxito da Vertigo depois de “Sandman”, e deu ao selo o fôlego e a credibilidade necessários para continuar sem necessitar dos títulos de lançamento ou sequer de material de que a DC fosse completamente proprietária.
“Transmetropolitan”, de Warren Ellis, transplantado da linha mal-sucedida Helix, foi o próximo êxito, e até ao final do milênio seria ainda lançado “100 Bullets”. Apesar de ser uma das melhores casas para material de autor, a Vertigo não abandonou as propriedades mais adultas da DC. “House of Secrets”, “Unknown Soldier” e “Trenchcoat Brigade”, que recuperava Mister E, Dr. Occult e o Vingador Fantasma ao lado de John Constantine, permitiram criar um novo material ligado a estas propriedades, que pouco tinham para contribuir para o exército de super-heróis do Universo DC.
Atualmente a Vertigo vem trazendo títulos ainda mais ousados como Sweet Tooth, iZombie, Mad Max e etc Se tornando quase uma editora independente, funcionando sob os auspícios da DC.
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