Já faz um bom tempo desde que uma série de TV da franquia fora exibida na TV sendo a última delas Jornada nas Estrelas: Enterprise (que também falarei em breve) que teve seu último episódio exibido em 13 de maio de 2005 pondo um fim à 18 anos ininterruptos de produções pertencentes ao universo televisivo. Recentemente a Netflix adicionou ao seu catálogo todas as séries de Jornada nas Estrelas incluindo as duas temporadas da série animada relacionada com a Série Original, sendo assim, não pude deixar de conferir algumas delas que ainda não havia assistido.
A primeira que decidi conferir foi Voyager, cuja sinopse prendeu minha atenção de forma quase que imediata e me fez criar algumas expectativas, abaixo vocês podem conferir a sinopse:
A série segue as aventuras da nave estelar USS Voyager, que se perde no Quadrante Delta, 70.000 anos-luz da Terra, enquanto perseguiam uma nave Maquis. As tripulações de ambas as naves se unem à bordo da Voyager para fazer a viagem de 75 anos de volta para casa.
Todos os que estão familiarizados com o universo Star Trek sabem que, com o final da Série Original (TOS), uma nova fase foi iniciada com A Nova Geração (TNG) onde diversos conceitos foram abordados das mais diversas formas além de sermos introduzidos à USS Enterprise-D e sua tripulação. Próximo ao encerramento das aventuras do capitão Jean Luc Picard e cia., os produtores da atual série resolveram começar outras produções derivadas da mesma: Deep Space Nine e Voyager.
A parte interessante da coisa é que tanto Deep Space Nine quanto Voyager seguem linhas distintas de abordagem e desenvolvimento de suas tramas, no caso da primeira temos Benjamin Sisko, o primeiro capitão afrodescendente da franquia, ao comando de uma estação espacial que leva o nome da série, já com Voyager há uma nova quebra de paradigma com a introdução de Kathryn Janeway, a primeira capitã a ser apresentada ao público (o que torna a série ainda mais interessante).
Como foi possível perceber na sinopse mais acima, a capitã Janeway se encontra em uma situação incomum para qualquer capitão da Frota Estelar. Agora que estão perdidos em uma região nunca antes mapeada por qualquer civilização pertencente ao Quadrante Alfa, resta apenas a árdua e perigosa tarefa de voltar para casa. Infelizmente essa viagem, mesmo que realizada em velocidade de dobra máxima suportada pela USS Voyager, irá durar longos 75 anos. Nem preciso mencionar os dilemas que estão por vir e que testarão a determinação da tripulação em seguir os princípios da Federação mesmo estando a mais de 50.000 anos luz da Terra.
Como é de se esperar num cenário como esse, a série tende a ser bem episódica em sua execução, o que não é necessariamente uma coisa ruim já que, diferente de muitas séries produzidas hoje em dia onde o excesso de episódios (aliados a um roteiro de qualidade duvidosa) são motivo para reclamação, a jornada da Voyager pelo Quadrante Delta é demorada e com cada episódio que passa temos a oportunidade de conhecer melhor os membros da tripulação e medir seu caráter mediante situações complicadas que surgem. Praticamente todos os personagens regulares ganham espaço para crescer, com atenção especial para o jovem piloto Tom Paris (imagem acima) que nos é introduzido como um sujeito mau-caráter (cumpria pena em uma prisão da Frota em São Francisco) e evolui de forma interessante à medida que o tempo passa, provando seu valor como uma pessoa decente e disposta a defender seus amigos.
Outro personagem bastante cativante é o Doutor (sim, é apenas Doutor) que é uma das melhores coisas apresentadas na série. Basicamente ele é um holograma especializado em atender emergências médicas, em outras palavras, um médico substituto para ser utilizado apenas em situações extremas. Levando em conta o fato de que o oficial médico chefe da nave morreu no acidente que a jogou do outro lado da galáxia, era de se esperar que o HME (sua designação técnica) assumisse o posto agora disponível.
Com uma personalidade ríspida (ao menos nas primeiras temporadas) aliada de uma boa dose de humor sarcástico vemos aos poucos que o Doutor é muito mais do que apenas um programa de computador. Os episódios protagonizados pelo mesmo costumam ser considerados como fillers, mas, nem por isso são desinteressantes já que aos poucos vão humanizando o personagem ao mesmo tempo que abordam questões relacionadas com preconceito, discriminação e ética.
Durante a sétima e última temporada da série, no episódio intitulado “Author, Author”, temos a oportunidade de encarar a vida do ponto de vista do Doutor por meio de uma história holográfica que, apesar de retratar alguns fatos de forma exagerada, expõe uma triste realidade vivida por outros hologramas em sua vida de servidão. O episódio levanta questões importantes relacionadas com igualdade e liberdade para todos os seres conscientes, somado com um roteiro muito bem bolado “Author, Author” é um dos melhores episódios da série.
Outra adição interessantíssima à tripulação da Voyager faz sua primeira aparição ao final da 3ª temporada no episódio duplo chamado “Scorpion” onde a capitã Janeway se vê novamente encurralada quando descobre que terão de atravessar uma região do Quadrante que é controlada pelos Borgs. Para os que não conhecem essa raça vou dar uma breve descrição da mesma: basicamente os Borgs funcionam como uma espécie de colméia onde seus indivíduos são convertidos em ciborgues, perdendo sua individualidade no processo, para que possam fazer parte de uma mente coletiva capaz de fazer com que todos os seus membros compartilhem suas experiências e se comuniquem de qualquer lugar da galáxia. Em sua obsessão em se tornarem perfeitos, os membros da coletividade costumam assimilar indivíduos de outras raças por transformá-los em ciborgues e adicionar suas características únicas à mente da coletividade.
Combater os Borgs costuma ser uma tarefa perigosa já que, após analisar os padrões de ataque utilizados, eles conseguem se adaptar e se tornar totalmente imunes, por exemplo: um drone atingido por um disparo de feiser (arma comum no universo ST) pode até morrer imediatamente, contudo, graças à mente coletiva, os próximos drones irão criar uma defesa natural contra este tipo de arma em questão de alguns milésimos de segundo fazendo com que os próximos disparos sejam inúteis. Para os infelizes que ficarem encurralados pelos drones sobreviventes, apenas restará serem assimilados depois de ouvirem a típica frase: “Resistir é inútil!”
Determinada a enfrentar os Borgs, Janeway descobre uma janela de oportunidade após descobrir que a coletividade fez um novo inimigo que é capaz de resistir aos seus ataques. Desta feita, a intrépida capitã decide fazer “um pacto com o Diabo” por ajudar os Borgs a enfrentarem esse novo inimigo vindo de outra dimensão, em troca, a USS Voyager teria livre passagem pelo território deles.
Visando assimilar a tripulação da nave em um momento oportuno, a coletividade envia uma emissária que atende pela designação Sete de Nove para vigiar de perto os passos de Kathryn. Após uma série de reviravoltas, a drone acaba sendo separada da mente coletiva e passa por um longo período de readaptação e é aqui que as coisas ficam ainda mais interessantes. Da mesma forma que o HME evolui e se torna mais humanizado com o passar do tempo, fica bem claro que Sete terá de trilhar um caminho similar à medida que volta a conviver como um indivíduo. Em suma temos uma personagem bastante inteligente, dotada de uma forte personalidade e bem sensual. É certeza que os episódios focados em contar o passado dela estão entre os mais interessantes da série, afinal de contas, ela também tem lá seus segredos que só são revelados com o tempo, então aqui está mais um motivo para darem uma chance para a série.
Não posso deixar de falar da capitã Janeway e dizer que os produtores da série acertaram de mão cheia ao apostar em uma mulher em posição de comando. A decisão de escolherem uma atriz de meia idade para viver o papel também foi um ponto interessante já que não optaram pelo caminho mais fácil ao usarem uma atriz mais jovem (talvez até mais esbelta) para tentar conseguir um outro tipo de audiência.
Conforme o tempo passa à bordo da Voyager vemos que Kathryn Janeway é uma das personagens mais humanizadas da tripulação, pois, é tão falível quanto qualquer pessoa, possuindo também seus medos e inseguranças. Ainda assim, a mesma consegue chefiar sua tripulação com grande maestria sem deixar que sua posição de comando a impeça de ser amiga (e até mesmo a mãezona) de seus tripulantes, com certeza mais um ponto positivo para esta produção.
O episódio final, “Endgame”, nos mostra até onde esta mulher esteve disposta a ir para garantir que sua tripulação, ou melhor, sua família, chegasse em casa em segurança. Mas bem antes disso já era possível perceber o quanto ela se esforçava para resolver tudo da melhor forma possível ao enfrentar os mais diversos dilemas morais com as quais se deparava.
Visando conquistar o público que acompanhou as aventuras de Kirk e Spock durante a série original, temos novamente um oficial vulcano à bordo da nave, o tenente Tuvok, que também desempenha um papel ativo em boa parte dos episódios. Como um típico vulcano, Tuvok é bastante reservado e sem um pingo de senso de humor, porém, demonstra ser bastante determinado ao desempenhar suas tarefas além de ser bastante leal à capitã e aos outros tripulantes.
Como diversidade sempre foi uma coisa comum dentro do universo da franquia, os produtores inovaram mais uma vez por adicionarem um personagem com descendência indígena no elenco regular. Estou falando de Chakotay, o primeiro oficial da USS Voyager e grande amigo de Kathryn. Os episódios focados nele quase sempre possuem temáticas relacionadas com religiosidade, uma coisa até vista como “quadrada” numa era onde a ciência caminha à passos muito largos. É interessante ver que Chakotay nunca abandonou as tradições do seu povo e muito menos suas crenças, isso tudo faz dele um personagem de valor e nos faz questionar algumas ideias que talvez tenhamos à respeito do tema.
De uma forma geral, Jornada nas Estrelas: Voyager é uma série que todo trekker precisa conferir algum dia. O simples fato de optarem por um enredo diferenciado e mais aventureiro, já é motivo suficiente para chamar atenção daqueles que sentem maior atração por essa temática. Infelizmente, a vasta quantidade de episódios ao longo das 7 temporadas pode afastar aqueles que esperam um pouco mais de ação e arcos fechados, pois, as coisas acontecem de forma um pouco mais lenta em Voyager.
Ainda assim vale à pena dar uma chance para a série e seu ritmo um tanto atípico para os padrões atuais, afinal, muitas surpresas aguardam os tripulantes da USS Voyager. Ainda por cima ficam algumas dúvidas a serem respondidas ao longo dessa aventura: Será que a capitã Janeway conseguirá levar todos para casa em antes de 75 anos? Por que os Borgs estão tão interessados em Sete de Nove? Quais perigos o Quadrante Delta abriga em sua extensão? Quais as intenções da Espécie 8472?
Todas as 7 temporadas desta série estão disponíveis na Netflix, caso possua uma conta então não deixe de conferir!
Autor da recomendação: Ítalo Bandeira
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